quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

terça-feira, 27 de outubro de 2009

GÊNEROS OCULTOS NA ESCOLA: O E-MAIL________________________________

Eriana Moitinho;

Giomara Gomes;

Ivânia Rocha;

Leusina Neves;

Ronaldo Almeida.



Resumo: Analisamos a ocorrência dos gêneros textuais nos livros didáticos, bem como nas DCN’s para o Ensino Médio, e em que circunstâncias esses textos são trabalhados, quando mencionados. A fim de situar o leitor, após apresentar o nosso objetivo, metodologia e relevância do trabalho, fazemos um breve histórico dos gêneros na história, a diferenciação entre gênero e tipo textual e esferas discursivas, trazendo alguns esclarecimentos sobre o objeto da pesquisa: o e-mail. Em seguida, nos atemos à análise do objeto, que consiste na investigação de treze livros didáticos do Ensino Médio e dos PCN`s de língua portuguesa. Finalizamos reiterando a importância do trabalho com os gêneros ocultos na escola, e em especial o uso do e-mail, considerando-o como um novo gênero surgido por meio do desenvolvimento das tecnologias e enfatizando a necessidade dos professores o utilizarem, já que este faz parte do cotidiano de inúmeras pessoas, inclusive dos próprios professores e alunos.



Palavras-chave: Gêneros textuais, Ensino de Português, Textos tecnológicos e E-mail.



Introdução



Este artigo tem como intuito analisar o suporte teórico que os livros didáticos e as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN’s) de língua portuguesa, ambos voltados para o Ensino Médio (EM) oferecem ao docente para trabalhar e incentivar a prática do gênero textual e-mail, que se tornou algo recorrente no dia-a-dia, mas que não é trabalhado em sala de aula com a devida importância, mesmo sendo uma modalidade textual bastante utilizada pelos alunos, segundo pesquisa anterior:



Observa-se que o item que obteve mais marcações pelos alunos foi o gênero artigo de opinião, com 09 incidências, o que corresponde a 90% do total de optantes; em seguida vem artigo informativo, com o percentual de 80%; a poesia com 70%; empatados em 4º lugar, com 40% das marcações temos os gêneros música e resumo; e, em 5º lugar aparecem os gêneros conto, romance e crônica. [...] Percebe-se, nitidamente, a opção pelo trabalho com os gêneros textuais tradicionais. Modalidades modernas, como Orkut, e-mail, Messenger, reality shows e blogs não têm nenhuma ocorrência, bem como modalidades não-verbais, como é o caso de pinturas, esculturas e gravuras. (ROCHA et al, 2009 pp. 6/7)





Gêneros textuais são acontecimentos históricos, arraigados à vida social e cultural, visto que o ser humano os pratica no ato da comunicação em suas atividades do dia-a-dia. São de extrema importância a discussão e análise sobre gêneros textuais, uma vez que para efetuar a comunicação, é necessário que se disponha de algum tipo de gênero, pois o ato de comunicar-se verbalmente exige algum tipo de texto que por sua vez é realizado por determinado gênero utilizado na produção do ato comunicativo.

Os gêneros estão em constante surgimento na vida social, pois eles passam a se desenvolver na medida em que os indivíduos vão criando e desenvolvendo novas formas de comunicação. Esse fato pode ser constatado conforme se observa o uso dos gêneros na história da humanidade, pois, em se tratando de povos primitivos, desprovidos de uma cultura escrita, os gêneros por eles utilizados eram de certa forma também limitados.

Com o passar dos tempos e o surgimento da escrita, pôde-se verificar o aumento dos gêneros que passaram a fazer parte da vida das pessoas. Levando adiante essa linha de pensamento, chega-se a constatar que nos últimos séculos, as tecnologias, especialmente as ligadas às áreas de comunicação, propiciaram o surgimento de diversos gêneros textuais que fazem parte do cotidiano de inúmeras pessoas, fazendo com que surjam diversas formas discursivas, tais como telefonema, telegramas, cartas eletrônicas (e-mails), bate-papos virtuais e muitos outros que estão presentes nas mais novas formas de transmitir informações e comunicar-se, que são as TIC’s (Tecnologias de Informação e Comunicação).

O estudo dos gêneros textuais é muito antigo e surgiu com Platão, na tradição poética e com Aristóteles, na tradição retórica. Hoje é encontrado tanto na literatura, quanto na linguística e o seu desenvolvimento vem avançando na cultura eletrônica. É através da modernização das tecnologias que vão surgindo novos gêneros, como por exemplo, o e-mail, surgido em 1971, quando Ray Tomlinson enviou a primeira mensagem de um computador para outro, utilizando o programa SNDMSG que ele acabara de desenvolver (Paiva apud Santos, s. d.). Hoje com o avanço das tecnologias, o e-mail se tornou um dos meios de comunicação mais utilizados pelas pessoas e por empresas que fazem do seu uso uma constante.

O e-mail é utilizado pelos alunos com o formato de bilhete, em vez de carta, que seria a função exercida por aquele, pois vem substituir esta, por ser um meio tecnológico mais rápido e seguro de trocas de mensagem, porém nota-se que alguns professores não valorizam tal prática, transmitindo uma ideia distorcida do e-mail, sem analisar a fundo que este tipo de comunicação é um gênero que pode e deve ser tratado em sala de aula, mesmo que não seja abordado pelos livros didáticos e pelas DCN’s.

Se o e-mail é tão utilizado, por que não é trabalhado nas nossas escolas? Cabe aos professores se responsabilizar por isso? Ou aos produtores e editores de livros didáticos? O uso do e-mail é tão importante que podemos interagir com pessoas dos mais variados lugares sem sair de nossas casas, trocar ideias, orientações e sugestões de trabalhos com professores e alunos, visto que tais comunicações verbais se dão através de textos que são feitos a partir de algum gênero. Dominar um gênero textual não quer dizer dominar uma forma linguística, mas sim realizar linguisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares (Rocha et al, 2009. p.7). Se é através da linguagem oral e escrita que nos comunicamos, por que o e-mail, resultado do desenvolvimento tecnológico do próprio homem, não é visto por muitos como um gênero textual?

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), não trazem em seus textos uma satisfatória definição do que e de como se deve trabalhar em língua portuguesa, pois não houve uma renovação dos conceitos nesse novo mundo de informações. Portanto, é perceptível a falta de interesse dos professores em trabalhar novos gêneros, e essa é uma das razões pelas quais estamos procurando saber se o livro didático e as DCN’s trazem algum suporte para que os professores desenvolvam o trabalho com o gênero textual e-mail.

O presente estudo é uma continuidade da pesquisa anterior (retrocitada), sendo que, desta feita, fazemos um recorte: continuamos o trabalho com os gêneros textuais ocultos na escola, porém centralizamos no gênero e-mail. A metodologia empregada neste trabalho, assim como no anterior, que servirá de base para este, é a pesquisa qualitativa, na vertente da etnopesquisa, uma vez que lidamos com pessoas em seus lugares de convívio, e levamos em consideração as suas falas e também o contexto em que estão inseridas; também trazemos a pesquisa-ação, uma vez que um dos pesquisadores trabalha na Instituição que está servindo de base para a análise do objeto em questão.



Gênero textual, tipo textual e domínio discursivo





Com a finalidade de situar o leitor, achamos por bem fazer uma distinção entre gênero e tipo textual, bem como esclarecer o que concebemos como domínio discursivo, visto que, em muitos casos ocorre uma confusão ao discriminar tipo de gênero textual, pois há inúmeros casos em que são atribuídos para ambos os termos o mesmo significado, não levando em conta que são coisas distintas e ao fazer a análise do seu teor, podemos perceber que são muito diferentes, pois enquanto tipo textual corresponde a uma pequena quantidade de textos, sendo mais caracterizados como modos textuais, e que em geral são sequências discursivas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção que não se tratam de um vasto número e nem têm tendência a aumentarem, ao contrário de gênero, pois se referem aos textos materializados na prática comunicativa que utilizamos diariamente no processo de interlocução que estão constantemente se desenvolvendo e originando novos, que muitas vezes são resultado da evolução dos já existentes, a exemplo de telefonema, carta pessoal, romance, bilhete, lista de compras, piadas e muitos outros que fazem parte da vida diária das pessoas.

Partindo também dessa esfera de análise, encontramos o domínio discursivo que se trata de uma instância de discurso que não chega a se caracterizar em si como gênero, mas subsidia vários textos que dão origem a eles. Fazem parte dessa classe os textos que indicam instância jurídica, religiosa, educacional etc. Como exemplo de domínio discursivo, temos o discurso jurídico, o jornalístico, o religioso, entre outros, que estão estritamente relacionados às instâncias nas quais são forjados.

Dessa forma, pode ser percebida a relevância que os gêneros textuais têm na história da humanidade, pois, a todo momento, faz-se uso deles e vão surgindo novos à medida que os sujeitos vão descobrindo novas formas de relacionar-se uns com os outros e praticarem a comunicação, levando em consideração que o homem é ser social e como tal precisa estar em constante contato com os outros.

O e-mail, como se afirmou anteriormente, é um gênero relativamente novo, visto que surgiu em 1971, com o envio de mensagem eletrônica de Ray Tomlinson Campbel, (Paiva apud Santos, s. d.), o e-mail tem se caracterizado como um dos meios mais utilizados para troca de informações entre as pessoas que dele se servem. Porém, devemos ficar atentos quanto à linguagem utilizada, adequando esta à situação comunicativa: se, por exemplo, a mensagem for enviada a um amigo, podemos utilizar de uma linguagem informal, mas, ao contrário, se for para um pedido de estágio em uma empresa, a linguagem deve ser a mais formal possível.

Segundo Paiva (2005), pelo correio eletrônico circulam outros tantos gêneros, como ofício, carta, convite etc., contudo ela defende que o próprio e-mail seja um gênero específico associado a esse instrumento. Ainda sobre isso, afirma:



Vejo o e-mail como um gênero eletrônico escrito, com características típicas de memorando, bilhete, carta, conversa face a face e telefônica, cuja representação adquire ora a forma de monólogo ora de diálogo e que se distingue de outros tipos de mensagens devido a características bastante peculiares de seu meio de transmissão, em especial a velocidade e a assincronia na comunicação entre usuários de computadores. (PAIVA, 2005. p. 77-78)



Fica claro para nós, a partir do enunciado acima, que o e-mail, além de ser um gênero textual, é também um suporte para outros gêneros, que nele circulam livremente, de acordo com a conveniência dos seus usuários. Podemos afirmar que o e-mail é um dos gêneros textuais mais abertos, por conta da sua maleabilidade, da plasticidade de ser prolongado em uma carta, resumido em um bilhete, perder as palavras e ganhar os símbolos, as imagens e também os emoticons ou smileys, que são representações de expressões faciais, formadas a partir de caracteres da escrita, como sinais de pontuação e outros símbolos. Além do e-mail, ainda existem outros tipos de gêneros textuais utilizados no nosso cotidiano: Orkut, msn, bate-papo etc. Esses gêneros necessitam de um suporte para que eles possam circular em nossa sociedade, e esse suporte é a internet. Para Marcuschi



Os gêneros surgem emparelhados a necessidades e atividades sócio¬-culturais, bem como na relação com inovações tecnológicas, o que é facilmente perceptível ao se considerar a quantidade de gêneros textuais hoje existentes em relação a sociedades anteriores à comunicação escrita. (MARCUSCHI, apud ROCHA et al, 2009)



Evidentemente que, com o avanço das TIC’s, surgiram outras exigências, decorrentes do desenvolvimento tecnológico e com ele se fez necessário também a inserção e o acompanhamento do uso desses novos gêneros por parte das pessoas, para que assim, elas possam ter acesso aos mais variados tipos de gêneros textuais e utilizá-los no seu cotidiano, enriquecendo as formas de comunicação e interação social.



Gêneros ocultos na escola: o e-mail





Diante do resultado da pesquisa anterior, na qual foi constatado que os professores não trabalham prioritariamente com os gêneros textuais modernos, oriundos das novas tecnologias, questionamos se eles não trabalhavam porque não davam importância a tais gêneros ou se, de fato, não recebiam o suporte teórico necessário. Resolvemos, então, fazer uma investigação nos livros didáticos e nos PCN’s, a fim de saber se abordavam ou não os textos tecnológicos e, em caso afirmativo, como se dá tal abordagem.

Foram analisados treze livros didáticos de Língua Portuguesa do Ensino Médio, sendo três coleções divididas em três volumes: I, II e III, referentes à 1ª, 2ª e 3ª séries, respectivamente; os demais têm o formato de volume único para as três séries finais da Educação Básica. (conforme tabelas anexas)

Todos os livros analisados foram publicados entre o ano de 2000 e o de 2008. Desse total, somente quatro (menos de um terço) trazem alguma abordagem do gênero em questão – o e-mail, mesmo assim, um destes (Português: Projetos, de Carlos Emílio Faraco e Carlos Marto de Moura) não menciona diretamente o e-mail, mas traz um capítulo inteiro sobre a literatura na era da internet, que é o veículo no qual este gênero transita, restando, nesse caso, apenas três, mas entendemos ser conveniente citá-lo como um dos que aborda, por conta da aproximação e-mail/ internet, contudo deixamos claro que a abordagem é extremamente inadequada e incompleta, do ponto de vista dos gêneros textuais. Dos que abordam o correio eletrônico, curiosamente, os que melhor retratam o assunto são aqueles que datam de 2003 e 2004, superando as edições mais novas, que não trabalham com o gênero textual e-mail.

Os livros mencionados são utilizados como suporte à prática pedagógica dos professores de língua portuguesa do Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães de Irecê, mas um deles, intitulado “Novas Palavras: língua portuguesa: ensino médio” (ver tabela 2.0), é o livro adotado para o ensino de português na referida escola, o qual os alunos têm exemplares para o seu uso pessoal e podem, inclusive, levar o livro referente à sua série para casa. Apesar de ter sido escolhido em 2008 e utilizado a partir desse ano, o referido volume não faz nenhuma referência a gêneros textuais, muito menos e-mail.

O livro de língua portuguesa denominado “Português: língua e cultura – Vol. Único”, do autor Carlos Alberto Faraco traz, no capítulo 27 (p.424-425), destinado a tratar dos textos de opinião, um artigo de opinião do articulista Gustavo Ioschpe, do jornal A Folha de São Paulo, no qual o autor refere-se ao uso dos e-mails no dia-a-dia e fala da linguagem neles utilizada, descrevendo e classificando os tipos de e-mails recebidos por ele, de modo que as reações são sempre interessantes.

Percebe-se que o artigo faz referência a diversos tipos de escritos que usualmente são encontrados nos e-mails, como intertextos empregados no corpus da mensagem eletrônica e também aborda a utilidade do correio eletrônico, como um feedback para o seu trabalho como jornalista.

O articulista utiliza o exemplo dos e-mails que recebe com o objetivo de responder aos leitores que escrevem para ele, seja criticando, elogiando, pedindo favores, ou até mesmo fazendo o que ele caracteriza como “ataque pessoal”. Como foi possível perceber pela descrição do conteúdo do livro escrito por Faraco, este não trata o e-mail como gênero textual, simplesmente traz um outro gênero, que é o artigo de opinião, que, por sua vez, traz o e-mail como intertexto e, ao lado do texto de Ioschpe, é exibida uma gravura de uma página eletrônica da internet, a do correio eletrônico.

Podemos concluir que no livro “Português: língua e cultura”, não é possível afirmar que exista uma abordagem adequada ou inadequada acerca do gênero textual e-mail, visto que o que o autor traz é insuficiente; então optamos por dizer que Faraco, no livro analisado, nem sequer aborda o gênero textual e-mail, que apenas é mencionado, indiretamente, em outro texto presente no livro, permanecendo oculto, assim, o gênero textual e-mail.

Outro livro no qual o e-mail aparece, traz o seguinte comentário: “O e-mail, na sociedade informatizada, é o meio mais utilizado de transmissão de mensagens entre pessoas e empresas.” (De olho no mundo do trabalho, Ernani Terra). Pela caracterização, é possível perceber que o autor trata o e-mail apenas como um meio de comunicação, e não como um gênero textual, demonstrando as suas utilidades, e que através dele podemos escrever cartas, e mandar mensagens para qualquer lugar do mundo, sem a necessidade de sair de casa para ir aos correios.

Adiante, Ernani Terra explica que a linguagem utilizada no “veículo” é a mais variada possível: se for para um colega de classe a quem você pretende convidar para uma festa, a linguagem do e-mail tenderá a ser coloquial. No entanto, se for para o diretor de uma empresa a quem você pretende pedir um estágio, a linguagem será formal.

Sem dúvida, as afirmações do autor mencionado são pertinentes, mas incompletas: em nenhum momento ele menciona a palavra gênero textual, entretanto, pelo menos, já traz alguma abordagem acerca do e-mail e deixa claro que é importante se trabalhar com ele em sala de aula, e que é um conhecimento essencial para o aluno que pretende adentrar ao mercado de trabalho.

O terceiro livro que faz alguma menção ao e-mail é o intitulado “Português: literatura, gramática, produção de texto”, de autoria de Leila Lauar Sarmento e Douglas Tufano. Neste exemplar, os autores trazem um capítulo inteiro, com o título “Textos empregados no cotidiano”, explicitando que a linguagem varia conforme a relação estabelecida entre os interlocutores, podendo ser bem formal, como a de uma entrevista de emprego, instrucional, como de uma receita culinária, e informal, como a de um bilhete que fixamos com um imã na porta da geladeira.

Mais adiante, os autores esclarecem que os sujeitos, para se comunicar, se utilizam de vários gêneros, e estes devem estar de acordo ao desenvolvimento social do interlocutor, ao mesmo tempo em que um número de pessoas estão utilizando outros recursos que possivelmente facilitam tanto a comunicação, quanto a rapidez e eficácia, que é o caso do e-mail. E ainda, afirmam que o e-mail, muitas vezes, é usado em substituição ao telefone, à carta e ao telegrama. Ele pode ser enviado e recebido a qualquer instante, conforme a conveniência do remetente e do destinatário.

Sarmento e Tufano prosseguem na abordagem, de modo a esclarecer o que é o e-mail, para que serve, como deve ser usado e em que circunstâncias, trazendo atividades que possibilitam o entendimento do assunto, conforme o seguinte texto: “Para se utilizar o e-mail, cabe ao escritor utilizar de uma linguagem clara, com parágrafos curtos, mesmo sabendo que este tem uma linguagem epistolar, que remete à estrutura padrão de uma carta.”

Não podemos afirmar que é uma abordagem de excelência, mas que é adequada, já que por um lado, poderia ter explorado mais o gênero, trazendo mais exemplos e mais atividades, de modo que o aluno pudesse refletir sobre o texto que utiliza sempre; por outro lado, o e-mail é tratado como um gênero textual e está inserido no capítulo que se destina ao estudo dos gêneros textuais do cotidiano, embora não seja utilizado o termo gênero, mas apenas texto.

Além dos livros didáticos, observamos nas Diretrizes Curriculares Nacionais, mais especificamente nos PCN’s de língua portuguesa para o ensino médio, como são tratados os gêneros textuais, principalmente o e-mail.

Os PCN´s de Ensino Médio ressaltam o uso da linguagem no cotidiano dos alunos, mas não relacionam a língua falada e escrita ao contexto dos gêneros textuais. Podemos dizer que a linguagem costumeira dos sujeitos é empregada no ato de interagir. Ora, para haver interação entre os membros de um determinado meio, é preciso que eles desenvolvam competências lingüísticas e a escola é o espaço privilegiado para desenvolver tais competências. Para que isso ocorra de maneira sistemática, o trabalho com gênero deveria ser priorizado no trato com a língua materna.

É notável que nos PCN´s esta questão dos gêneros é tratada de forma vaga e imprecisa, quando se refere principalmente à natureza das relações entre a fala e a escrita; e às vezes é encontrado nesse documento, que deve nortear a prática docente em todo o país, somente tipos de textos ou sequências discursivas, tais como: narração, descrição, exposição, argumentação e conservação.

Marcuschi, em seu livro “Produção Textual, análise de gêneros e compreensão”, faz uma crítica aos PCN´s com relação aos gêneros, no item intitulado: “Gêneros textuais na língua escrita e falada de acordo com os PCN’s”

Este aspecto é complexo e não passa despercebido aos PCNs. Contudo, as observações, são, no geral, vagas. [...] Não se faz uma distinção sistemática entre tipos (enquanto construtos teóricos) e gêneros (enquanto formas textuais empiricamente realizadas e sempre heterogêneas). [...] Consideram-se apenas os gêneros com realização lingüística mais formal e não os mais praticados nas atividades linguísticas cotidianas. (MARCUSCHI, 2008. p.209)



A partir da fala do autor, percebe-se também que há uma necessidade de se trabalhar o gênero não somente como forma de compreender e sim como uma forma de produzir o conhecimento e o discurso, refletindo sobre os mesmos, uma vez que estudar os gêneros textuais implica produzir reflexões em torno do uso real da língua e da linguagem.

Dessa forma, percebemos que a abordagem dos PCN’s é pertinente em alguns pontos, mas não em outros, pois falta clareza quanto ao conteúdo e às maneiras de se trabalhar com gêneros textuais em sala de aula, falhando, portanto, no seu papel primordial de subsidiar os docentes no ensino da língua materna.

Para isso, objetivando o desenvolvimento de competências e habilidades para a formação dos educandos em que desenvolvam as possibilidades do uso da língua, é de suma importância que os educadores ampliem os seus conhecimentos, tratando de gêneros textuais diversos, privilegiando também os que estão ocultos, não somente na escola, mas no próprio PCN, que é o e-mail, utilizado com muita freqüência na realidade social dos alunos.



Considerações finais





Hoje, em uma sociedade globalizada em que o desenvolvimento tecnológico se impõe, a escola não deve fugir dessa realidade, que é o uso do gênero e-mail na sala de aula. Nesse contexto, o e-mail é mais uma possibilidade do uso da língua, que, de acordo com os PCN´s,

“Quanto mais dominamos as possibilidades do uso da língua, mais nos aproximamos da eficácia comunicativa estabelecida como norma de sua transgressão denominada estilo.” (BRASIL/MEC,1999 P.43)



Assim todas as tarefas referentes a textos devem ser desenvolvidas para que os alunos possam compreender e vivenciar os vários usos e funções da língua, inclusive no que tange aos gêneros oriundos das novas tecnologias de informação e comunicação.

A importância de se trabalhar o gênero e-mail, mesmo fora da proposta dos PCN´s tal qual da maioria dos livros didáticos, dá-se na sociedade atual por ser um produto social e cultural que faz parte do contexto, marcando assim um diálogo entre interlocutores que os produzem, entre outros gêneros textuais que o compõem, especificamente o espistolar.

É preciso que a escola abandone algumas práticas tradicionais, que deslocam o uso social da linguagem, integrando assim as novas tecnologias ao ato comunicacional, já que no contexto escolar o desenvolvimento tecnológico faz parte das discussões transmitidas pelos PCN´s.

Como os gêneros textuais sempre existiram, em forma de entrevista, debates, palestras, novelas, artigos, reportagens etc., é preciso nortear aqueles que ainda não entraram diretamente na proposta metodológica do ensino-aprendizagem, criando pois novas estratégias de ensino, de modo que enriqueça o trabalho docente, promovendo a interação professor/aluno e otimizando o aprendizado. Enfim, o uso das novas tecnologias nas escolas oferece oportunidade tanto aos alunos quanto aos professores de desenvolverem melhor suas competências nesse mundo moderno, de forma a dominar o uso da língua e desenvolver maior eficácia com relação à fala e à escrita.



Referências



1. Brasil. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio: Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília, DF: MEC, 1999.



2. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. – São Paulo: Parábola Editorial, 2008.



3. PAIVA, Vera Lúcia M. de O. E-mail: um novo gênero textual. In: MARCUSCHI, Luiz Antônio, XAVIER, Antônio Carlos. (orgs.). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção do sentido. – 2. Ed. – Rio de Janeiro: Lucerna. 2005.



4. ROCHA, Ivânia et al. Gêneros ocultos na escola. – Artigo apresentado no Seminário Interdisciplinar de Pesquisa em Letras – SIP VII, da Uneb/DCHT – Campus XVI. – Irecê/BA: Acervo pessoal, 2009.



5. SANTOS, Wasley. O e-mail como gênero textual em sala de aula. Disponível em: http://www.webartigos.com/articles/20685/1/o-email-como-genero-textual-na-sala-de-aula/pagina1.html - Acesso em: 03/08/2009, às 20:31.



















































ANEXOS





















































Tabela 1.0 – Coleções de livros didáticos para o Ensino Médio





Título Autor (es) Editora Ano Abordagem

Português (1ª, 2ª e 3ª séries)

José de Nicola Scipione 2008 Nada consta: traz um capítulo inteiro, no Vol. I, sobre gêneros textuais no cotidiano, mas não faz menção ao e-mail.

Português: Linguagens

(1ª, 2ª e 3ª séries)



William Roberto Cereja; Thereza Cochar Magalhães Atual 2005 Nada consta

Novas Palavras: língua portuguesa: ensino médio Emília Amaral;

Mauro Ferreira;

Ricardo Leite;

Severino Antônio;

FTD 2005 * Não há nem mesmo um exemplo;

* Não trabalha na perspectiva de gêneros textuais, mas com o emprego das seqüências narração, descrição e dissertação.









Título Autor (es) Editora Ano Abordagem

Textos: Leituras e Escritas

Vol. Único Ulisses Infante Scipione 2004 Nada consta

Português: Novas Palavras

Vol. Único Emília Amaral, Mauro Ferreira, Ricardo Leite, Severino Antônio. FTD 2003 Nada consta

Português: língua e cultura

Vol. Único Carlos Alberto Faraco Base 2003 Faz uma só referência; mesmo assim, indireta, pois é num artigo de opinião que aborda o assunto.

Português: Literatura, Gramática, Produção de texto.

Vol. Único Leila Lauar Sarmento; Douglas Tufano. Moderna 2004 Traz um capítulo inteiro sobre os textos do cotidiano: carta pessoal, bilhete, convite e e-mail; inclusive com exercícios e atividades avaliativas sobre o gênero e-mail.

Língua Portuguesa

Vol. Único Heloísa Harue Takazaki IBEP 2005 Nada consta

Português

Vol. Único João Domingues Maia Ática 2008 Nada consta

Português: Novas Palavras

Vol. Único Emília Amaral, Mauro Ferreira, Ricardo Leite, Severino Antônio. FTD 2000 Nada consta

Língua Portuguesa: Projeto Escola e Cidadania para todos

Vol. Único Harry Vieira Lopes; Josafá Fernandez Gonçalves; Simone Gonçalves da Silva;

Zuleika de Felice Murrie. Editora do Brasil 2004 Nada consta

Português de olho no mundo do trabalho Ernani Terra;

José de Nicola. Scipione 2008 Trata o e-mail de forma técnica, orientando como utilizar esse “meio de transmissão de mensagens”, mas não como gênero textual.

Português: Projetos Carlos Emílio Faraco; Carlos Marto de Moura Ática 2008 Traz algumas páginas intituladas “Literatura na era da internet”, mas não traz o e-mail nesse contexto.

Tabela 2.0 – Livros didáticos para o Ensino Médio no formato Volume Único.



Gêneros ocultos na escola_________________________________________________


Giomara Gomes

Ivânia Rocha

Leusina Neves

Ronaldo Almeida



Resumo: Analisamos a ocorrência dos gêneros textuais na escola, através do estudo de uma instituição pública. A fim de situar o leitor, trabalhamos, após apresentar o nosso objetivo, metodologia e relevância do trabalho, um breve histórico dos gêneros na história, a sua indicação nas diretrizes educacionais brasileiras (PCN’s), e a diferenciação entre gênero e tipo textual. Em seguida, nos atemos à análise do objeto, que consiste no estudo de como se dá o trabalho com textos em uma escola pública, o que foi feito por meio de questionários dirigidos a alunos e professores de Língua Portuguesa do Ensino Médio. Finalizamos reiterando a importância do trabalho com os gêneros e enfatizando a necessidade dos professores trabalharem também com os gêneros ocultos na escola.



Palavras-chave: Gêneros textuais, Ensino de Português, Textos tecnológicos e Textos não-verbais.



Introdução



O presente artigo tem como objetivo apresentar o estudo e reflexão acerca dos gêneros textuais, já que estes se integram circunstancialmente ao cotidiano das pessoas pelas linguagens, propiciando atividades discursivas e interativas. A metodologia empregada consistiu na revisão da literatura sobre o assunto, sobretudo os escritos de Luiz Antônio Marcuschi, da Universidade Federal de Pernambuco, e também na pesquisa com professores e alunos das terceira série do Ensino Médio de uma escola pública da cidade de Irecê – o Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães. A escolha foi quase impositiva, uma vez que é a única escola onde funciona o Ensino Médio regular em funcionamento, no momento.

A importância desse trabalho reside no fato dele contemplar, ao mesmo tempo, a discussão atual em torno do ensino de texto na escola, e trazer à tona o questionamento se o que o professor ensina é relevante para os alunos, ou seja, se a escola atende às demandas atuais dos seus usuários. Além disso, o ensino de texto na escola, através dos gêneros está priorizado nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), instrumentos que direcionam o ensino dos vários componentes curriculares no Brasil.

Com base nas discussões apresentadas neste artigo, e de acordo com a concepção de Marcuschi (2008, p.147), pode-se entender que a expressão “gênero” não é nova, já esteve presente desde Platão, firmando-se com Aristóteles, passando por Horácio e Quintiliano, pela Idade Média, o Renascimento e a Modernidade, até os primórdios do século XX. Hoje gênero é facilmente usado para referir a uma categoria distintiva de discurso de qualquer tipo, falado ou escrito, com ou sem aspirações literárias. Com isso, o gênero textual não se restringe, mas é usado em etnografia, sociologia, antropologia, retórica e na lingüística, tendo um papel interdisciplinar.

Para entender o gênero como forma discursiva é fundamental ver o discurso quando produzido, nas suas manifestações linguísticas, por meio de textos; sendo que o seu produto forma-se na oralidade e/ou escrita, criando assim, significações para a comunicação em geral, que se traduz em um texto, estabelecendo, a partir daí elementos de coesão e de coerência. Através das interações comunicativas nota-se que os textos podem ser organizados dentro de um determinado gênero, partindo das condições de produção do discurso, os quais geram, assim, usos sociais.

Os gêneros são, portanto, determinados historicamente, de acordo com o desenvolvimento sócio-cultural e a cada dia torna-se essencial que a atividade de ensino contemple a diversidade de textos e gêneros, não só apenas em função de uma relevância social, mas pelo fato de que textos pertencentes a diferentes gêneros são organizados de diferentes formas, propiciando o contato dos alunos com um universo significativo de possibilidades textuais que poderá usar ao longo de sua vida, de acordo com as suas necessidades. Entretanto, é preciso que se abandonem as velhas formas de se ensinar os gêneros e, ao contrário, fazer uma relação específica que abrange os novos gêneros de circulação social, para que se possa favorecer uma reflexão crítica para o uso da linguagem com uma plena participação na sociedade letrada.



Estudo dos gêneros textuais segundo os PCN’s



Uma das competências e habilidades a serem desenvolvidas em Língua Portuguesa pelos alunos do Ensino Médio, segundo os PCN’s, é: Analisar os recursos expressivos da linguagem verbal, relacionando textos/ contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura, de acordo com as condições de produção/recepção (intenção, época, local, interlocutores participantes da criação e propagação de idéias e escolhas). (Brasil/ MEC, 1999. p. 42)

Todo aluno tem a necessidade de ampliar o domínio da língua e da linguagem. Com isso, é fundamental que as escolas desenvolvam os conhecimentos discursivos e linguísticos de modo variado, produzindo diferentes efeitos de sentido adequados ao texto, nas várias situações de interlocução, oral e escrita.

Ainda de acordo com os PCN’s, “Quanto mais dominamos as possibilidades de uso da língua, mais nos aproximamos da eficácia comunicativa estabelecida como norma ou a sua transgressão, denominada estilo. A atenção sobre aquilo que não se mostra e como se mostra traz informações sobre quem produz e para que produz.” (Brasil/ MEC, 1999. p. 43). Assim, todas as tarefas referentes a textos devem ser desenvolvidas para que os alunos possam compreender e vivenciar os vários usos e funções da língua, como está explícito nos PCN’s:



Os gêneros discursivos cada vez mais flexíveis no mundo moderno nos dizem sobre a natureza social da língua. Por exemplo, o texto literário se desdobra em inúmeras formas; o texto jornalístico e a propaganda manifestam variedades, inclusive visuais; os textos orais coloquiais e formais se aproximam da escrita; as variantes lingüísticas são marcadas pelo gênero, pela profissão, camada social, idade, região. (Brasil/ MEC, 1999. pp. 43/44)



É observável que os gêneros sempre existiram e que há uma variação em função da época, das culturas, das finalidades sociais e o ensino deve priorizar as variedades de gêneros novos nas escolas, pois são com eles que os alunos interagem no cotidiano, já dispondo de competência discursiva e lingüística, sem contar com as relações sociais, que são formas de interação que despertam no aluno a capacidade de se inter-relacionar. Desse modo, há uma necessidade que o sistema educacional de ensino privilegie textos de gêneros que apareçam com maior frequência na realidade social.



Gênero textual, tipo textual e domínio discursivo



O estudo do gênero constitui um instrumento de grande importância por estar presente de forma constante na comunicação verbal, fazendo parte da linguagem que o homem utiliza para se comunicar, visto que tais comunicações verbais se dão através de textos que são feitos a partir de algum gênero. Dominar um gênero textual não quer dizer dominar uma forma linguística, mas sim realizar linguisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares. Marcuschi defende a ideia que distinguir tipo textual de gênero textual é extremamente necessário, pois a confusão entre ambos pode esvaziar a noção de gênero textual de sua carga sociocultural, historicamente construída, ferramenta essencial para alguns na socialização do sujeito via linguagem escrita, e para tal define tipos textuais como construções teóricas definidas por propriedades lingüísticas intrínsecas e gêneros textuais são realizações lingüísticas concretas definidas por propriedade sócio-comunicativas.

Os tipos textuais abrangem categorias textuais limitadas como a narração, argumentação, exposição, descrição, injunção, se restringindo, portanto, a um pequeno grupo específico, enquanto que os gêneros textuais são inúmeros, pois se tratam de textos que são encontrados diariamente e apresentam padrões sociocomunicativos, características definidas por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas sociais, institucionais e técnicas e como exemplo de gênero textual tem-se o sermão, telefonema, carta, aula expositiva, artigos jornalísticos, lista de compras, bula de remédio, piada, conversação espontânea, cardápio de restaurante, outdoor, bate-papo por computador, aulas virtuais e diversas outras. Gêneros textuais são, portanto, formas textuais escritas ou orais estáveis, históricas e socialmente situadas.

No âmbito desse estudo há também o domínio discursivo, que serve para designar uma esfera ou instância de produção discursiva da atividade humana na qual os textos circulam. Segundo Marcuschi, esses domínios não seriam nem textos, nem discursos, mas dariam origem a discursos muito específicos. Constituem práticas discursivas dentro das quais seria possível a identificação de um conjunto de gêneros que às vezes lhe são próprios, como exemplo, discurso jornalístico, discurso jurídico e discurso religioso, que são atividades que não abrangem gêneros em particular, mas originam vários deles. Dessa forma, as definições para gênero, tipo e domínio discursivo são as seguintes: tipo textual são textos nos quais predomina a identificação de seqüências lingüísticas como norteadoras; gênero textual é a categoria na qual predominam os critérios de padrões comunicativos, ações, propósitos e inserção sócio-histórica; e domínio discursivo que é um campo, em que não é utilizado propriamente o texto, mas sim formações históricas e sociais que originam os discursos.

Levando em consideração que os gêneros constituem importantes formas de comunicação e interação entre as pessoas, pois é feita através da linguagem e esta não para de evoluir, pois aqueles compõem formas vivas e dinâmicas, e também evoluem, acompanhando, com isso, os avanços na linguagem e sua inserção no mundo comunicativo.



Gênero textual no cotidiano



A língua é uma atividade social, histórica e cognitiva, e é através dela que nos comunicamos. A comunicação verbal só é possível por algum gênero textual, pois é impossível nos comunicarmos verbalmente senão por um texto. Os gêneros textuais têm sua importância, pois ampliam e enriquecem a capacidade dos alunos de produzirem textos orais e escritos. Consequentemente, ajudam-lhes a compreender e interpretar os textos com mais aperfeiçoamento. Vejamos o que diz Marcuschi:

Os gêneros surgem emparelhados a necessidades e atividades sócio¬-culturais, bem como na relação com inovações tecnológicas, o que é facilmente perceptível ao se considerar a quantidade de gêneros textuais hoje existentes em relação a sociedades anteriores à comunicação escrita. (MARCUSCHI, s.d.)





O estudo dos gêneros textuais é muito antigo e achava-se concentrado na literatura; hoje é encontrado na linguística de maneira geral. Surgiu com Platão, na tradição poética; e com Aristóteles na tradição retórica. Hoje, com o grande desenvolvimento da cultura eletrônica, houve um aumento significativo das categorias textuais usadas pelas pessoas, como: rádio, celular, televisão, computador, notebook e a mais notável de todas: a internet. Foi com o avanço das tecnologias, especialmente na área da comunicação, que surgiram novos tipos de gêneros: sítios de relacionamento (orkut, msn, bate- papo), correio eletrônico, diários virtuais etc. Com isso, encontramos uma grande possibilidade de trabalhar com novos gêneros, pois eles nos apresentam uma nova forma de comunicação, tanto oral como escrita. Porém, cabe à escola decidir com que tipo de gênero trabalhar. A escolha de um gênero pode servir para interagirmos com pessoas das mais diversas localidades, mas devemos ficar atentos à questão intercultural, pois o que pode ser adequado à nossa cultura, pode ser inadequado à outra. Como explicita Marcuschi (2008, p.171) que em um encontro de negócios entre chineses e alemães, foi notado que os alemães gostam de contar piadas em seus encontros, porém para os chineses isso é inadequado. No entanto o uso de provérbios por parte dos chineses é muito usado, isso para eles é sinal de boa educação. Com isso chegamos a uma conclusão que todos os povos têm a sua cultura e que eles trabalham os gêneros de acordo com os seus princípios.

Os gêneros precisam de um suporte para que possam circular na sociedade, na definição de Marcuschi, suporte de um gênero é o lócus físico ou virtual com formato específico que serve de base ou ambiente de fixação do gênero materializado no texto (MARCUSCHI, 2008, p.174). O suporte pode ser convencional ou incidental . Existem ainda outros tipos de gêneros, esses podem ser considerados como serviços, são os correios, programas de e-mail, mala-direta, internet etc. Para processar seus textos, o falante lança mão do saber linguístico, enciclopédico e interacional, não podemos definir a forma como eles se organizam, mas sabemos que eles agem interativamente e é com base nesses conhecimentos que os falantes especificam os gêneros produzidos durante sua fala.





Os gêneros textuais na sala de aula: gêneros ocultos na escola





Entre os dias 13 e 17 de março de 2009 foram aplicados questionários com 10 alunos (04 rapazes e 06 moças) da terceira série do Ensino Médio com idade entre 16 e 20 anos, todos estudantes do Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães de Irecê, escolhidos aleatoriamente de um universo de cerca de 360 alunos na mesma situação. Também foram aplicados questionários com 06 professores de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, do universo de 09; mas, dos 06 questionários entregues, somente 04 foram devolvidos, sendo que os respondentes, nesse caso, são todos do sexo feminino, que estão atuando no magistério há 15 anos ou mais e que trabalham em, no mínimo, duas instituições. No que tange aos alunos, todos responderam e devolveram os questionários imediatamente, tendo demonstrado apenas algumas dúvidas quanto ao teor do referido instrumento, que foram sanadas enquanto eles respondiam às questões.

Tanto os questionários dirigidos aos alunos, quanto os referentes aos professores versam sobre os gêneros textuais. O questionamento sobre o mesmo tema foi proposital, pois pretendemos confrontar a visão discente e a docente, observando até que ponto elas convergem e se há divergências quanto ao trabalho dos gêneros textuais na escola, à sua relevância e também se as modalidades textuais efetivamente utilizadas pelos alunos em seu cotidiano estão sendo também trabalhadas em sala de aula.

Inicialmente, logo após a identificação do entrevistado, foi perguntado de que modo se dá o trabalho com textos em sala de aula e dadas as seguintes alternativas, que poderiam ter selecionada uma ou mais opções, conforme o parecer do respondente (as alternativas abaixo estão conforme aparecem no questionário destinado aos professores; essas mesmas opções foram adaptadas para os alunos):

a) Trabalho com os tipos textuais narração, dissertação e descrição;

b) Uso textos variados, para leitura, análise, refacção e produção, a fim de que os alunos conheçam a variedade de gêneros;

c) Apresento a meus alunos uma diversidade de gêneros textuais, escritos ou não, sem excluir a tipologia textual, que está inserida nos diferentes gêneros.

Houve nove incidências para o item b no questionário dos alunos e quatro no das professoras, ou seja 90% dos estudantes entrevistados responderam que seus professores trabalham com textos escritos, que contemplam vários gêneros; e 100% dos professores confirmaram que realmente o fazem. Apenas três alunos marcaram a opção a e somente um assinalou a alternativa c, que era a mais abrangente de todas, pois se observarmos as alternativas a, b e c formam um continuum, no qual a próxima categoria abrange a anterior, sendo a última a mais completa de todas. Assim, podemos concluir que, para os alunos, há um trabalho com gêneros textuais na escola, mas de modo resumido, de modo que não alcança gêneros orais e pictóricos, por exemplo. Já as professoras, 75% delas marcaram a opção a também, demonstrando claramente que trabalham com a tipologia textual. Quando respondiam, questionamos a uma delas o porquê de assinalar a letra a, e ela respondeu prontamente que pretende contemplar uma exigência dos vestibulares, o que não deixa de ser verdade, visto que alguns sistemas de avaliação ainda se mantêm focalizados na cobrança dos tipos textuais. Duas delas (50%) assinalaram ainda a opção c, o que vai de encontro com a opinião dos alunos (10%) que não veem o trabalho como descrito na referida alternativa.

A segunda questão do questionário versa sobre quais os gêneros são, de fato, trabalhados em sala de aula; novamente, poderia ser assinalada mais de uma opção. A tabela seguinte traz o resultado referente às opções dos alunos:



Classificação Gênero (s) Ocorrências Percentual

1º lugar Artigo de opinião 09 90%

2º lugar Artigo informativo (jornalístico) 08 80%

3º lugar Poesia 07 70%

4º lugar Música e Resumo 06 60%

5º lugar Conto, Romance e Crônica 05 50%

6º lugar Diários, Peça teatral e Histórias em quadrinhos 04 40%

7º lugar Carta, Receitas, Bulas, Resenha, Ditados populares 02 20%

8º lugar Bilhete, Filmes, Novela 01 10%



Observa-se que o item que obteve mais marcações pelos alunos foi o gênero artigo de opinião, com 09 incidências, o que corresponde a 90% do total de optantes; em seguida vem artigo informativo, com o percentual de 80%; a poesia com 70%; empatados em 4º lugar, com 40% das marcações temos os gêneros música e resumo; e, em 5º lugar aparecem os gêneros conto, romance e crônica. Ainda há ocorrências, embora de menor significação, dos gêneros diários, peça teatral, histórias em quadrinhos, carta, receitas, bulas, resenha, ditados populares, bilhete, filmes e novela. Percebe-se, nitidamente, a opção pelo trabalho com os gêneros textuais tradicionais. Modalidades modernas, como Orkut, e-mail, Messenger, reality shows e blogs não têm nenhuma ocorrência, bem como modalidades não-verbais, como é o caso de pinturas, esculturas e gravuras.

Quanto às professoras, duas delas (50%) assinalaram todos os itens, com exceção de esculturas e reality shows; uma marcou somente os mesmos gêneros tradicionais mencionados pelos alunos; e uma outra marcou também as mesmas modalidades escritas de sua colega e dos alunos, porém acrescentou algumas modalidades não-verbais, como a escultura, a pintura e a gravura. De modo geral, é possível afirmar que as respostas de professoras e alunos convergem no que diz respeito ao ensino dos gêneros tradicionais escritos, mas divergem quanto ao trabalho com os gêneros resultantes do avanço da tecnologia, bem como com as modalidades textuais não-escritas. Acreditamos que as divergências podem ser oriundas de duas fontes: 1ª – os professores começaram a trabalhar os gêneros modernos a pouco tempo, de modo incipiente, e os alunos ainda não consideram como um trabalho efetivo; 2ª – os professores não trabalharam de fato com tais gêneros, mas apenas mencionaram os mesmos superficialmente para seus alunos, o que levam aqueles supor que ensinam, embora estes não percebam do mesmo modo.

A terceira questão do instrumento solicitava às pessoas que marcassem alternativas que correspondem aos objetivos do ensino de texto na escola, diante das necessidades do mundo moderno. Para os alunos, o mais importante é saber comunicar-se, efetivamente, de modo mais ou menos formal, de acordo com suas necessidades (60%) e dominar tanto a língua coloquial como a padrão e também descrever fatos, objetos e acontecimentos (50%). Já as professoras acham importantíssimo que os alunos saibam o que é uma dissertação; sejam capazes de descrever fatos, acontecimentos e objetos; saibam comunicar-se, efetivamente, de modo mais ou menos formal, de acordo com suas necessidades; dominem tanto a língua coloquial como a padrão; e possam escrever narrativas. Pode-se concluir que os alunos estão mais interessados no uso efetivo da língua em suas vidas, em seu cotidiano, priorizando o ensino através dos gêneros textuais; enquanto que os profissionais ora tendem para as necessidades práticas dos alunos (adequação da língua, por exemplo), ora voltam a sua atenção para a tipologia textual (descrever, narrar e dissertar): é como se enfrentassem um dilema entre gênero e tipo e não estivessem bem seguros de qual forma seria a mais adequada; ou então, e talvez essa seja a hipótese mais próxima da verdade, devido ao tempo de trabalho das professoras entrevistadas (15 anos ou mais), é que não estejam totalmente inteiradas sobre os estudos dos gêneros textuais e sua aplicação ao ensino da língua materna.

A quarta questão contém uma solicitação para que o entrevistado relate uma atividade textual significativa ocorrida em sala de aula. Tanto professores quanto alunos centraram as suas respostas em trabalhos que contemplam a metodologia através dos gêneros, visto que citaram conto, crônica, romance e leituras de textos variados (vários gêneros) como as atividades mais significativas. A análise desse item nos faz perceber que o que predomina na escola analisada é realmente o ensino dos gêneros tradicionais escritos, pois não houve qualquer ocorrência para os gêneros cibernéticos, nem para os pictóricos. O que deixa clara a segunda questão, na qual perguntamos sobre quais os gêneros eram, de fato, trabalhados em sala de aula: a ênfase, recai, com certeza, sobre modalidades escritas mais formais. Esta foi a última questão para as professoras. Para os alunos, acrescentamos mais uma: desejamos saber quais os gêneros eles costumam usar em seu cotidiano, a fim de comparar com o trabalho desenvolvido na escola.

Quando questionados sobre os gêneros da listagem por nós apresentada que mais utilizam no cotidiano, os alunos responderam, quase sempre, apontando itens que estão ligados às inovações tecnológicas, embora também façam uso de gêneros tradicionais escritos, como é possível observar na tabela abaixo:

Classificação Gênero (s) Ocorrências Percentual

1º lugar Música 08 80%

2º lugar Orkut 07 70%

3º lugar Artigo informativo (jornalístico) e Filmes 06 60%

4º lugar Poesia 05 50%

5º lugar E-mail, Artigo de opinião e Resumo 04 40%

6º lugar Bilhete, Messenger, Ditados populares e Vídeos, 03 30%

7º lugar Carta, Novela, Peça teatral, e Ofícios 02 20%

8º lugar Pinturas, Gravuras, Artigo científico, Romance, Histórias em quadrinhos, Receitas, Bulas, Diários e Crônica 01 10%



Nota-se que enquanto os alunos usam prioritariamente a música; os professores deixam-na em terceiro plano; se, por um lado, os estudantes utilizam o orkut intensamente, os professores praticamente ignoram tal texto; se os filmes não estão em alta na escola, na vida dos jovens estão. Além desses, aparecem o e-mail e outros textos, não-verbais, que os alunos afirmaram não ser trabalhados na escola e que eles utilizam, embora não com muita frequência em sua vida diária.



Considerações finais



Diante do exposto, se faz mister reiterar a importância do trabalho com os gêneros textuais na escola, não só porque são indicados por diretrizes de políticas educacionais, mas pelo seu papel fundamental na vida social do aluno; pelo seu caráter pragmático, através do qual o texto tem uma função real na vida dos estudantes, pois as aprendizagens só são significativas, se fizerem sentido para quem aprende. Os gêneros textuais, como modalidades sociais, atendem a essa demanda.

É essencial que repensemos as nossas práticas, a fim de atender às expectativas dos alunos, que têm usado bastante as novas modalidades textuais: precisamos dar importância aos usos que os estudantes fazem do texto, incentivando-os a usarem mais os gêneros textuais e a ampliar as possibilidades de uso, adequando-as à situação comunicativa.

O orkut, o e-mail e as gravuras, entre outros, são textos importantes que estão ocultos na escola, visto que são usados pelos alunos, mas não são trabalhados sistematicamente pelos professores. É necessário que os professores dominem as novas tecnologias, talvez até aprendendo com seus alunos, a fim de dar conta dessa exigência da atualidade. É evidente que não devemos abandonar os gêneros tradicionais, apenas devemos contemplar novas modalidades, a fim de expandir o universo da textualidade na escola. Assim, daremos conta de trabalhar com os textos que os alunos já usam, valorizando as suas aprendizagens prévias, como também abordaremos outros textos, como possibilidades futuras de uso, preparando-os para o porvir, que pode ser o trabalho, a universidade ou ambos.



Referências



1. Brasil. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio: Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília, DF: MEC, 1999.



2. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. Sítio: www.proead.unit.br/professor/linguaportuguesa/arquivos/textos/Generos_textuias_definicoes_funcionalidade.rtf. - acessado em: 13 de março de 2009.



3. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. – São Paulo: Parábola Editorial, 2008.













































Anexo

















































UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

DEPARTAMENTO DE CIÊNC IAS HUMANAS E TECNOLOGIAS/DCHT

CAMPUS XVI - IRECÊ - BA





GIOMARA GOMES, IVÂNIA ROCHA,

LEUSINA MONTEIRO E RONALDO ALMEIDA.











GÊNEROS TEXTUAIS: GÊNEROS OCULTOS NA ESCOLA





Questionário de pesquisa realizada nas disciplinas de SIP III e Tipologia Textual, sob a orientação das Professoras Djárcia Brito e Hilderlândia Machado, respectivamente, como atividade obrigatória dos referidos componentes curriculares, referente ao 3º semestre de Letras/ Literaturas – Turma 2007.2.





















IRECÊ/ BA

2009

Questões para alunos da 3ª série do Ensino Médio sobre Língua Portuguesa:





NOME - _______________________________________________________________

IDADE - ______________________________________________________________



1- Como seu professor trabalha com os textos em sala de aula?



a) Trabalha com os tipos textuais narração, dissertação e descrição;



b) Usa textos variados, para leitura, análise, refacção e produção, a fim de que os alunos conheçam a variedade de gêneros;



c) Apresenta a seus alunos uma diversidade de gêneros textuais, escritos ou não, sem excluir a tipologia textual, que está inserida nos diferentes gêneros.



2- Quais dos gêneros abaixo já foram trabalhados em sala de aula?





a) carta;

b) bilhete;

c) música;

d) gravuras;

e) pinturas;

f) esculturas;

g) orkut;

h) e-mail;

i) messenger;

j) reality shows;

k) filmes;

l) vídeos;

m) receitas;

n) bulas;

o) artigo de opinião;

p) peça teatral;

q) ofícios;

r) artigo informativo (jornalístico);

s) artigo científico;

t) resumo;

u) resenha;

v) conto;

w) novela;

x) romance;

y) blog;

z) diários;

aa) poesia;

bb) ditados populares;

cc) crônica;

dd) histórias em quadrinhos.



3- Diante das necessidades do mundo moderno, considero importante que os estudantes:



a) saibam o que é uma dissertação;

b) possam escrever narrativas;

c) sejam capazes de descrever fatos, acontecimentos e objetos;

d) saibam comunicar-se, efetivamente, de modo mais ou menos formal, de acordo com suas necessidades;

e) dominem a linguagem coloquial, somente;

f) dominem tanto a língua coloquial, como a língua padrão;

g) usem, em sala de aula, somente a norma culta.



4- Relate, em poucas linhas, um trabalho com texto, sob a orientação de seu professor, realizado em sala de aula que você considera relevante:



________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5- Quais dos gêneros abaixo você usa, com frequência, no seu dia-a-dia?



a) carta;

p) peça teatral

b) bilhete;

q) ofícios

c) música;

r) artigo informativo (jornalístico)

d) gravuras s) artigo científico;

e) pinturas t) resumo;

f) esculturas u) resenha;

g) orkut v) conto;

h) e-mail w) novela;

i) messenger x) romance;

j) reality shows y) blog;

k) filmes z) diários;

l) vídeos aa) poesia;

m) receitas bb) ditados populares;

n) bulas cc) crônica;

o) artigo de opinião dd) histórias em quadrinhos.



sábado, 24 de outubro de 2009

As estações das palavras

Não há rima que encante

Mais que a pureza de

Palavras aéreas, floridas,

Ternas ou melancólicas



Brancas nuvens passageiras

Melódicas odes vespertinas;

Primavera florida de arco-íris

Que mantêm alhures os dissabores.



Poemas sazonais,

Que não se importam com a forma:

Preocupam-se tão somente

Em seguir a moda da estação.



Se é verão,

As palavras movem-se

A altas temperaturas

E transpiram de emoção.



Se a primavera chega, então

Os grafemas ganham cores e formas,

E espalham no ar o seu perfume

Trazendo à tona a paixão.



Com o outono,

Vento, poesia e canção;

Há festa na natureza,

Junto aos frutos da estação.



Finalmente, o frio inverno

De ventos uivantes,

Ar pesado e sombrio

Que seduz com seu mistério gelado.



De estação em estação,

As palavras nascem e morrem.

Às vezes mudam de tom,

Mas permanecem imortais.



Ivânia Rocha.
Irecê/BA, 30/12/2002.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

SSA- Congresso Internacional de Linguística Histórica

Prática Pedagógica IV

Novo acordo ortografico da Língua Portuguesa 



Giomara Gomes

Ivânia Nunes

Leusina Neves

Ronaldo Almeida

Silvana Meneses
 
  A língua é viva
  • A língua está para um rio, assim como a gramática normativa está para uma poça;
  • Palavras e expressões entram e saem da moda;Português brasileiro # português de Portugal.
Se falamos diferente, podemos escrever igual?

  • O novo Acordo Ortográfico:
  • Consenso ou duas redações oficiais;
  • Não mexe na pronúncia das palavras;
  • Busca facilitar, padronizar a escrita;
 A questão ortográfica
  • A ortografia é um dos mais importantes aspectos das línguas escritas; (presente nas primeiras gramáticas do séc. XVI)
  • Também um dos casos mais polêmicos (Conforme Silva, (2008. p.11) em torno do modo como se escreve determinada língua e da maneira como esse idioma se constitui e dialoga com o vasto universo de significados).
A ortografia e a Língua Portuguesa
  • O Português é uma língua neolatina muito importante, oriunda do latim, mas que sofreu influência do provençal, galego, árabe etc;
  • Três períodos distintos: português proto-histórico (séc. VIII ao XIII); português arcaico (séc. XIII ao XIV); português moderno (séc. XVI ao XXI

Transformações do português
  • Séc. XIII ao XVI – a ortografia assentava-se na pronúncia;
  • Séc. XVI ao XIX – grafia erudita, de natureza pseudo-etimológica;
  • Séc. XX – ortografia simplificada, com a eliminação dos fenômenos puramente fonéticos e do eruditismo etimológico.
  • Mudanças acompanhadas de tentativas de normatização;
  • Ortografia: preocupação para os gramáticos, que começaram a escrever sobre o assunto – Pero de Magalhães Gândavo (1574), Duarte Nunes de Leão ( 1576), Bento Pereira (1666), entre outros.
  • Séc. XIX: em Portugal e no Brasil há a publicação de decretos e a realização de acordos ortográficos – aumenta a discussão em torno da questão ortográfica.
  • Inúmeras variantes gráficas necessidade de unificação.
  • Séc. XX:* crescimento do mercado editorial;
      **desenvolvimento das relações internacionais;
        *aperto dos laços
  • Brasil/Portugal divergência gráfica insustentável.
  • *complexo processo de unificação ortográfica;
A questão ortográfica

  • Divergências: ortográficas e ideológicas;
  • 1907 – projeto pioneiro de reforma ortográfica (ABL), complemntada em 1912;
  • 1911 – projeto de simplificação (Portugal), recusado em 1920;
  • 1931 – Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro (ABL + Academia de Ciências de Lisboa);
  • 1940 e 1943: vocabulários ortográficos distintos de Portugal e do Brasil, respectivamente;
  • 1945 – Conferência Inter-Acadêmica de Lisboa para a Unificação Ortográfica da Língua portuguesa.
O novo acordo
  • 1986/1990 – unificação do português do Brasil, Portugal e os países africanos de língua portuguesa
  • Novas regras ortográficas aos países da CPLP: obrigação de aprovar um vocabulário comum + regras ortográficas;
  • Projeto amplo e de implicações diversas: idioma falado por cerca de 240 milhões de pessoas, em pelo menos 8 países (sexta língua mais falada no mundo);
  • Portugal – modificações atingem cerca de 1,6% do seu léxico;
  • Brasil - modificações atingem somente 0,5% do total de palavras;
  • 320 milhões de livros modificados.
  • 1994 – deveria entrar em vigor, mas não recebeu as ratificações necessárias;
  • 1998 – protocolo modificativo (altera a data de vigorar);
  • 2004 – apenas três países podem ratificar o acordo para que ele vigore;
  • 2004 – Brasil ratifica;
  • 2006 – Cabo Verde e São Tomé e Príncipe ratificam;
  • 2008 – Portugal ratifica, mas as mudanças para eles só valeriam dentro de seis anos
  • 2006 a 2008: debates se acirraram – no Brasil, o FNDE autoriza a modificação dos livros didáticos; em Portugal, Petição contra o Acordo;
  • 2009 – adaptação das primeiras obras pelas editoras;
  • Até 2010 – livros com mudanças p/ o Ensino Fundamental;
  • Até 2011 – adequação dos livros didáticos para o Ensino Médio;
  • 2011 – limite p/ que os concursos, vestibulares e avaliações em geral se adaptem ao Novo Acordo.
  • O que mudou
  • K, Y e W passam a fazer parte oficialmente do alfabeto da língua portuguesa;
  • Nomes próprios hebraicos de tradição bíblica poderão ser simplificados: Baruch ou Baruc; Enoch ou Enoc (dígrafos finais ch, ph e th);
  • Eliminação ou adaptação, nos nomes próprios hebraicos de tradição bíblica, dos dígrafos finais mudos (ch, ph e th): Joseph José etc;
  • Manutenção ou eliminação, em nomes de pessoas e de lugares consagrados pelo uso, das consoantes finais: David ou Davi; Madrid ou Madri etc;
  • Substituição, sempre que possível, dos topônimos estrangeiros por formas vernáculas correspondentes: Nova York Nova Iorque;
  • Emprego da letra minúscula nos nomes de meses, estações do ano e dias da semana;
  • Emprego da letra minúscula no nome dos pontos cardeais;
  • Emprego facultativo da letra minúscula nos vocábulos que compõem uma citação bibliográfica, com exceção do primeiro vocábulo e daqueles obrigatoriamente grafados com maiúsculas: Memórias póstumas de Brás Cubas; Cem anos de solidão;
  • Emprego facultativo de minúscula nas formas de tratamento e reverência
  • Emprego facultativo da letra minúscula nos vocábulos que compõem uma citação bibliográfica, com exceção do primeiro vocábulo e daqueles obrigatoriamente grafados com maiúsculas: Memórias póstumas de Brás Cubas; Cem anos de solidão;
  • Emprego facultativo de minúscula nas formas de tratamento e reverência (axiônimos), bem como em nomes sagrados que designam crenças religiosas (hagiônimos): santa Isabel, doutor Carlos Ferreira;
  • Emprego facultativo em nomes que designem domínios do saber e formas afins: português, literatura, Matemática;
  • Emprego facultativo de maiúsculai nicial em logradouros públicos, templos e edifícios: rua Fernando de Noronha;
  • Eliminação do trema: linguística geral;
  • Eliminação do acento agudo nos ditongos abertos ei, oi, eu das paroxítonas: ideia, boleia, jiboia, apoio;
  • Eliminação do acento agudo nas palavras paroxítonas com i e u tônicos precedidos de ditongo: feiura, sauipe;
  • Eliminação do acento agudo nas palavras paroxítonas que possuam u tônico precedido das letras q ou g, seguidas de e ou de i: averigue, argue;
  • Eliminação do acento circunflexo nos encontros vocálicos oo e ee: voo, veem, enjoo etc;
  • Eliminação dos acentos agudo e circunflexo em palavras homógrafas: pára (verbo) e para (preposição); péla (verbo), péla (substantivo) e pela (preposição) para e pela;
  • Manutenção dos acentos agudo e circunflexo em algumas palavras homógrafas: pôde, têm (plural), abstém etc;
  • Emprego facultativo dos acentos agudo e circunflexo em algumas palavras: dêmos/demos, forma/fôrma, amámos/amamos;
  • Emprego facultativo da acentuação nos casos consagrados pelas duas ortografias oficiais: económico/ econômico, bebé/bebê;
  • Emprego facultativo da acentuação nas formas conjugadas dos verbos terminados em guar, quar e quir: averiguo, aguo, oblíquo;
  • Eliminação do hífen em palavras compostas cuja noção de composição, em certa medida, se perdeu: paraquedas, mandachuva, rodaviva etc;
  • Eliminação do hífen em vocábulos derivados por prefixação, cujo prefixo terminar em vogal e o segundo elemento iniciar-se por consoante: contrarregra, suprassumo, antissemita etc;
  • Eliminação do hífen em vocábulos derivados por prefixação, cuja vogal final do prefixo é diferente da vogal inicial do segundo elemento: extraescolar, autoeducação, contraindicado etc;
  • Eliminação do hífen nas formas conjugadas ddo verbo haver seguidas da preposição de: hei de, há de hão de etc;
  • Manutenção do hífen em palavras compostas por justaposição cujos elementos constituem uma unidade semântica, mas mantêm uma tonicidade própria; e em compostos que designam espécies botânicas e zoológicas: arco-íris, carta-bilhete, amor-perfeito etc;
  • Manutenção do hífen em vocábulos derivados por prefixação cujo segundo elemento iniciar-se por h: pré-história, super-homem etc;
  • Manutenção do hífen em vocábulos derivados por prefixação cuja consoante final do prefixo é r e o segundo elemento também iniciar-se por r; ou com circum e pan c/ o segundo elemento iniciado por vogal, m ou n; ou em qualquer condição para alguns prefixos (além, sota, vice): super-resistente, circum-escolar, vice-diretor etc;
  • Inclusão do hífen em palavras derivadas por prefixação cujo prefixo terminar por vogal igual à vogal inicial do segundo elemento: anti-israelita, anti-inflacionário etc;
  • Eliminação de consoantes mudas não pronunciadas: acção   ação, baptizar   batizar;
  • Emprego facultativo de consoantes mudas pronunciadas: facto, setor, carácter, caráter etc;
  • Uniformização dos sufixos iano e iense (em vez de ano e ense) em vocábulos derivados de palavras terminadas por e/es: acriano, açoriano, euclidiano, camoniano, caboverdiano etc;
  • Uniformização das terminações átonas io e ia (em vez de eo e ea) nos substantivos que constituem variações de outros substantivos terminados em vogal: hástia, réstia, béstia, véstia;
  • Variação da conjugação de verbos terminados em iar, provenientes de substantivos terminados em ia io átonos; negocio ou negoceio;
Para saber mais:



SILVA, Maurício. O novo acordo ortográfico da língua portuguesa: o que muda, o que não muda. – 2 ed. – São Paulo: Contexto, 2008.