terça-feira, 27 de outubro de 2009

GÊNEROS OCULTOS NA ESCOLA: O E-MAIL________________________________

Eriana Moitinho;

Giomara Gomes;

Ivânia Rocha;

Leusina Neves;

Ronaldo Almeida.



Resumo: Analisamos a ocorrência dos gêneros textuais nos livros didáticos, bem como nas DCN’s para o Ensino Médio, e em que circunstâncias esses textos são trabalhados, quando mencionados. A fim de situar o leitor, após apresentar o nosso objetivo, metodologia e relevância do trabalho, fazemos um breve histórico dos gêneros na história, a diferenciação entre gênero e tipo textual e esferas discursivas, trazendo alguns esclarecimentos sobre o objeto da pesquisa: o e-mail. Em seguida, nos atemos à análise do objeto, que consiste na investigação de treze livros didáticos do Ensino Médio e dos PCN`s de língua portuguesa. Finalizamos reiterando a importância do trabalho com os gêneros ocultos na escola, e em especial o uso do e-mail, considerando-o como um novo gênero surgido por meio do desenvolvimento das tecnologias e enfatizando a necessidade dos professores o utilizarem, já que este faz parte do cotidiano de inúmeras pessoas, inclusive dos próprios professores e alunos.



Palavras-chave: Gêneros textuais, Ensino de Português, Textos tecnológicos e E-mail.



Introdução



Este artigo tem como intuito analisar o suporte teórico que os livros didáticos e as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN’s) de língua portuguesa, ambos voltados para o Ensino Médio (EM) oferecem ao docente para trabalhar e incentivar a prática do gênero textual e-mail, que se tornou algo recorrente no dia-a-dia, mas que não é trabalhado em sala de aula com a devida importância, mesmo sendo uma modalidade textual bastante utilizada pelos alunos, segundo pesquisa anterior:



Observa-se que o item que obteve mais marcações pelos alunos foi o gênero artigo de opinião, com 09 incidências, o que corresponde a 90% do total de optantes; em seguida vem artigo informativo, com o percentual de 80%; a poesia com 70%; empatados em 4º lugar, com 40% das marcações temos os gêneros música e resumo; e, em 5º lugar aparecem os gêneros conto, romance e crônica. [...] Percebe-se, nitidamente, a opção pelo trabalho com os gêneros textuais tradicionais. Modalidades modernas, como Orkut, e-mail, Messenger, reality shows e blogs não têm nenhuma ocorrência, bem como modalidades não-verbais, como é o caso de pinturas, esculturas e gravuras. (ROCHA et al, 2009 pp. 6/7)





Gêneros textuais são acontecimentos históricos, arraigados à vida social e cultural, visto que o ser humano os pratica no ato da comunicação em suas atividades do dia-a-dia. São de extrema importância a discussão e análise sobre gêneros textuais, uma vez que para efetuar a comunicação, é necessário que se disponha de algum tipo de gênero, pois o ato de comunicar-se verbalmente exige algum tipo de texto que por sua vez é realizado por determinado gênero utilizado na produção do ato comunicativo.

Os gêneros estão em constante surgimento na vida social, pois eles passam a se desenvolver na medida em que os indivíduos vão criando e desenvolvendo novas formas de comunicação. Esse fato pode ser constatado conforme se observa o uso dos gêneros na história da humanidade, pois, em se tratando de povos primitivos, desprovidos de uma cultura escrita, os gêneros por eles utilizados eram de certa forma também limitados.

Com o passar dos tempos e o surgimento da escrita, pôde-se verificar o aumento dos gêneros que passaram a fazer parte da vida das pessoas. Levando adiante essa linha de pensamento, chega-se a constatar que nos últimos séculos, as tecnologias, especialmente as ligadas às áreas de comunicação, propiciaram o surgimento de diversos gêneros textuais que fazem parte do cotidiano de inúmeras pessoas, fazendo com que surjam diversas formas discursivas, tais como telefonema, telegramas, cartas eletrônicas (e-mails), bate-papos virtuais e muitos outros que estão presentes nas mais novas formas de transmitir informações e comunicar-se, que são as TIC’s (Tecnologias de Informação e Comunicação).

O estudo dos gêneros textuais é muito antigo e surgiu com Platão, na tradição poética e com Aristóteles, na tradição retórica. Hoje é encontrado tanto na literatura, quanto na linguística e o seu desenvolvimento vem avançando na cultura eletrônica. É através da modernização das tecnologias que vão surgindo novos gêneros, como por exemplo, o e-mail, surgido em 1971, quando Ray Tomlinson enviou a primeira mensagem de um computador para outro, utilizando o programa SNDMSG que ele acabara de desenvolver (Paiva apud Santos, s. d.). Hoje com o avanço das tecnologias, o e-mail se tornou um dos meios de comunicação mais utilizados pelas pessoas e por empresas que fazem do seu uso uma constante.

O e-mail é utilizado pelos alunos com o formato de bilhete, em vez de carta, que seria a função exercida por aquele, pois vem substituir esta, por ser um meio tecnológico mais rápido e seguro de trocas de mensagem, porém nota-se que alguns professores não valorizam tal prática, transmitindo uma ideia distorcida do e-mail, sem analisar a fundo que este tipo de comunicação é um gênero que pode e deve ser tratado em sala de aula, mesmo que não seja abordado pelos livros didáticos e pelas DCN’s.

Se o e-mail é tão utilizado, por que não é trabalhado nas nossas escolas? Cabe aos professores se responsabilizar por isso? Ou aos produtores e editores de livros didáticos? O uso do e-mail é tão importante que podemos interagir com pessoas dos mais variados lugares sem sair de nossas casas, trocar ideias, orientações e sugestões de trabalhos com professores e alunos, visto que tais comunicações verbais se dão através de textos que são feitos a partir de algum gênero. Dominar um gênero textual não quer dizer dominar uma forma linguística, mas sim realizar linguisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares (Rocha et al, 2009. p.7). Se é através da linguagem oral e escrita que nos comunicamos, por que o e-mail, resultado do desenvolvimento tecnológico do próprio homem, não é visto por muitos como um gênero textual?

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), não trazem em seus textos uma satisfatória definição do que e de como se deve trabalhar em língua portuguesa, pois não houve uma renovação dos conceitos nesse novo mundo de informações. Portanto, é perceptível a falta de interesse dos professores em trabalhar novos gêneros, e essa é uma das razões pelas quais estamos procurando saber se o livro didático e as DCN’s trazem algum suporte para que os professores desenvolvam o trabalho com o gênero textual e-mail.

O presente estudo é uma continuidade da pesquisa anterior (retrocitada), sendo que, desta feita, fazemos um recorte: continuamos o trabalho com os gêneros textuais ocultos na escola, porém centralizamos no gênero e-mail. A metodologia empregada neste trabalho, assim como no anterior, que servirá de base para este, é a pesquisa qualitativa, na vertente da etnopesquisa, uma vez que lidamos com pessoas em seus lugares de convívio, e levamos em consideração as suas falas e também o contexto em que estão inseridas; também trazemos a pesquisa-ação, uma vez que um dos pesquisadores trabalha na Instituição que está servindo de base para a análise do objeto em questão.



Gênero textual, tipo textual e domínio discursivo





Com a finalidade de situar o leitor, achamos por bem fazer uma distinção entre gênero e tipo textual, bem como esclarecer o que concebemos como domínio discursivo, visto que, em muitos casos ocorre uma confusão ao discriminar tipo de gênero textual, pois há inúmeros casos em que são atribuídos para ambos os termos o mesmo significado, não levando em conta que são coisas distintas e ao fazer a análise do seu teor, podemos perceber que são muito diferentes, pois enquanto tipo textual corresponde a uma pequena quantidade de textos, sendo mais caracterizados como modos textuais, e que em geral são sequências discursivas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção que não se tratam de um vasto número e nem têm tendência a aumentarem, ao contrário de gênero, pois se referem aos textos materializados na prática comunicativa que utilizamos diariamente no processo de interlocução que estão constantemente se desenvolvendo e originando novos, que muitas vezes são resultado da evolução dos já existentes, a exemplo de telefonema, carta pessoal, romance, bilhete, lista de compras, piadas e muitos outros que fazem parte da vida diária das pessoas.

Partindo também dessa esfera de análise, encontramos o domínio discursivo que se trata de uma instância de discurso que não chega a se caracterizar em si como gênero, mas subsidia vários textos que dão origem a eles. Fazem parte dessa classe os textos que indicam instância jurídica, religiosa, educacional etc. Como exemplo de domínio discursivo, temos o discurso jurídico, o jornalístico, o religioso, entre outros, que estão estritamente relacionados às instâncias nas quais são forjados.

Dessa forma, pode ser percebida a relevância que os gêneros textuais têm na história da humanidade, pois, a todo momento, faz-se uso deles e vão surgindo novos à medida que os sujeitos vão descobrindo novas formas de relacionar-se uns com os outros e praticarem a comunicação, levando em consideração que o homem é ser social e como tal precisa estar em constante contato com os outros.

O e-mail, como se afirmou anteriormente, é um gênero relativamente novo, visto que surgiu em 1971, com o envio de mensagem eletrônica de Ray Tomlinson Campbel, (Paiva apud Santos, s. d.), o e-mail tem se caracterizado como um dos meios mais utilizados para troca de informações entre as pessoas que dele se servem. Porém, devemos ficar atentos quanto à linguagem utilizada, adequando esta à situação comunicativa: se, por exemplo, a mensagem for enviada a um amigo, podemos utilizar de uma linguagem informal, mas, ao contrário, se for para um pedido de estágio em uma empresa, a linguagem deve ser a mais formal possível.

Segundo Paiva (2005), pelo correio eletrônico circulam outros tantos gêneros, como ofício, carta, convite etc., contudo ela defende que o próprio e-mail seja um gênero específico associado a esse instrumento. Ainda sobre isso, afirma:



Vejo o e-mail como um gênero eletrônico escrito, com características típicas de memorando, bilhete, carta, conversa face a face e telefônica, cuja representação adquire ora a forma de monólogo ora de diálogo e que se distingue de outros tipos de mensagens devido a características bastante peculiares de seu meio de transmissão, em especial a velocidade e a assincronia na comunicação entre usuários de computadores. (PAIVA, 2005. p. 77-78)



Fica claro para nós, a partir do enunciado acima, que o e-mail, além de ser um gênero textual, é também um suporte para outros gêneros, que nele circulam livremente, de acordo com a conveniência dos seus usuários. Podemos afirmar que o e-mail é um dos gêneros textuais mais abertos, por conta da sua maleabilidade, da plasticidade de ser prolongado em uma carta, resumido em um bilhete, perder as palavras e ganhar os símbolos, as imagens e também os emoticons ou smileys, que são representações de expressões faciais, formadas a partir de caracteres da escrita, como sinais de pontuação e outros símbolos. Além do e-mail, ainda existem outros tipos de gêneros textuais utilizados no nosso cotidiano: Orkut, msn, bate-papo etc. Esses gêneros necessitam de um suporte para que eles possam circular em nossa sociedade, e esse suporte é a internet. Para Marcuschi



Os gêneros surgem emparelhados a necessidades e atividades sócio¬-culturais, bem como na relação com inovações tecnológicas, o que é facilmente perceptível ao se considerar a quantidade de gêneros textuais hoje existentes em relação a sociedades anteriores à comunicação escrita. (MARCUSCHI, apud ROCHA et al, 2009)



Evidentemente que, com o avanço das TIC’s, surgiram outras exigências, decorrentes do desenvolvimento tecnológico e com ele se fez necessário também a inserção e o acompanhamento do uso desses novos gêneros por parte das pessoas, para que assim, elas possam ter acesso aos mais variados tipos de gêneros textuais e utilizá-los no seu cotidiano, enriquecendo as formas de comunicação e interação social.



Gêneros ocultos na escola: o e-mail





Diante do resultado da pesquisa anterior, na qual foi constatado que os professores não trabalham prioritariamente com os gêneros textuais modernos, oriundos das novas tecnologias, questionamos se eles não trabalhavam porque não davam importância a tais gêneros ou se, de fato, não recebiam o suporte teórico necessário. Resolvemos, então, fazer uma investigação nos livros didáticos e nos PCN’s, a fim de saber se abordavam ou não os textos tecnológicos e, em caso afirmativo, como se dá tal abordagem.

Foram analisados treze livros didáticos de Língua Portuguesa do Ensino Médio, sendo três coleções divididas em três volumes: I, II e III, referentes à 1ª, 2ª e 3ª séries, respectivamente; os demais têm o formato de volume único para as três séries finais da Educação Básica. (conforme tabelas anexas)

Todos os livros analisados foram publicados entre o ano de 2000 e o de 2008. Desse total, somente quatro (menos de um terço) trazem alguma abordagem do gênero em questão – o e-mail, mesmo assim, um destes (Português: Projetos, de Carlos Emílio Faraco e Carlos Marto de Moura) não menciona diretamente o e-mail, mas traz um capítulo inteiro sobre a literatura na era da internet, que é o veículo no qual este gênero transita, restando, nesse caso, apenas três, mas entendemos ser conveniente citá-lo como um dos que aborda, por conta da aproximação e-mail/ internet, contudo deixamos claro que a abordagem é extremamente inadequada e incompleta, do ponto de vista dos gêneros textuais. Dos que abordam o correio eletrônico, curiosamente, os que melhor retratam o assunto são aqueles que datam de 2003 e 2004, superando as edições mais novas, que não trabalham com o gênero textual e-mail.

Os livros mencionados são utilizados como suporte à prática pedagógica dos professores de língua portuguesa do Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães de Irecê, mas um deles, intitulado “Novas Palavras: língua portuguesa: ensino médio” (ver tabela 2.0), é o livro adotado para o ensino de português na referida escola, o qual os alunos têm exemplares para o seu uso pessoal e podem, inclusive, levar o livro referente à sua série para casa. Apesar de ter sido escolhido em 2008 e utilizado a partir desse ano, o referido volume não faz nenhuma referência a gêneros textuais, muito menos e-mail.

O livro de língua portuguesa denominado “Português: língua e cultura – Vol. Único”, do autor Carlos Alberto Faraco traz, no capítulo 27 (p.424-425), destinado a tratar dos textos de opinião, um artigo de opinião do articulista Gustavo Ioschpe, do jornal A Folha de São Paulo, no qual o autor refere-se ao uso dos e-mails no dia-a-dia e fala da linguagem neles utilizada, descrevendo e classificando os tipos de e-mails recebidos por ele, de modo que as reações são sempre interessantes.

Percebe-se que o artigo faz referência a diversos tipos de escritos que usualmente são encontrados nos e-mails, como intertextos empregados no corpus da mensagem eletrônica e também aborda a utilidade do correio eletrônico, como um feedback para o seu trabalho como jornalista.

O articulista utiliza o exemplo dos e-mails que recebe com o objetivo de responder aos leitores que escrevem para ele, seja criticando, elogiando, pedindo favores, ou até mesmo fazendo o que ele caracteriza como “ataque pessoal”. Como foi possível perceber pela descrição do conteúdo do livro escrito por Faraco, este não trata o e-mail como gênero textual, simplesmente traz um outro gênero, que é o artigo de opinião, que, por sua vez, traz o e-mail como intertexto e, ao lado do texto de Ioschpe, é exibida uma gravura de uma página eletrônica da internet, a do correio eletrônico.

Podemos concluir que no livro “Português: língua e cultura”, não é possível afirmar que exista uma abordagem adequada ou inadequada acerca do gênero textual e-mail, visto que o que o autor traz é insuficiente; então optamos por dizer que Faraco, no livro analisado, nem sequer aborda o gênero textual e-mail, que apenas é mencionado, indiretamente, em outro texto presente no livro, permanecendo oculto, assim, o gênero textual e-mail.

Outro livro no qual o e-mail aparece, traz o seguinte comentário: “O e-mail, na sociedade informatizada, é o meio mais utilizado de transmissão de mensagens entre pessoas e empresas.” (De olho no mundo do trabalho, Ernani Terra). Pela caracterização, é possível perceber que o autor trata o e-mail apenas como um meio de comunicação, e não como um gênero textual, demonstrando as suas utilidades, e que através dele podemos escrever cartas, e mandar mensagens para qualquer lugar do mundo, sem a necessidade de sair de casa para ir aos correios.

Adiante, Ernani Terra explica que a linguagem utilizada no “veículo” é a mais variada possível: se for para um colega de classe a quem você pretende convidar para uma festa, a linguagem do e-mail tenderá a ser coloquial. No entanto, se for para o diretor de uma empresa a quem você pretende pedir um estágio, a linguagem será formal.

Sem dúvida, as afirmações do autor mencionado são pertinentes, mas incompletas: em nenhum momento ele menciona a palavra gênero textual, entretanto, pelo menos, já traz alguma abordagem acerca do e-mail e deixa claro que é importante se trabalhar com ele em sala de aula, e que é um conhecimento essencial para o aluno que pretende adentrar ao mercado de trabalho.

O terceiro livro que faz alguma menção ao e-mail é o intitulado “Português: literatura, gramática, produção de texto”, de autoria de Leila Lauar Sarmento e Douglas Tufano. Neste exemplar, os autores trazem um capítulo inteiro, com o título “Textos empregados no cotidiano”, explicitando que a linguagem varia conforme a relação estabelecida entre os interlocutores, podendo ser bem formal, como a de uma entrevista de emprego, instrucional, como de uma receita culinária, e informal, como a de um bilhete que fixamos com um imã na porta da geladeira.

Mais adiante, os autores esclarecem que os sujeitos, para se comunicar, se utilizam de vários gêneros, e estes devem estar de acordo ao desenvolvimento social do interlocutor, ao mesmo tempo em que um número de pessoas estão utilizando outros recursos que possivelmente facilitam tanto a comunicação, quanto a rapidez e eficácia, que é o caso do e-mail. E ainda, afirmam que o e-mail, muitas vezes, é usado em substituição ao telefone, à carta e ao telegrama. Ele pode ser enviado e recebido a qualquer instante, conforme a conveniência do remetente e do destinatário.

Sarmento e Tufano prosseguem na abordagem, de modo a esclarecer o que é o e-mail, para que serve, como deve ser usado e em que circunstâncias, trazendo atividades que possibilitam o entendimento do assunto, conforme o seguinte texto: “Para se utilizar o e-mail, cabe ao escritor utilizar de uma linguagem clara, com parágrafos curtos, mesmo sabendo que este tem uma linguagem epistolar, que remete à estrutura padrão de uma carta.”

Não podemos afirmar que é uma abordagem de excelência, mas que é adequada, já que por um lado, poderia ter explorado mais o gênero, trazendo mais exemplos e mais atividades, de modo que o aluno pudesse refletir sobre o texto que utiliza sempre; por outro lado, o e-mail é tratado como um gênero textual e está inserido no capítulo que se destina ao estudo dos gêneros textuais do cotidiano, embora não seja utilizado o termo gênero, mas apenas texto.

Além dos livros didáticos, observamos nas Diretrizes Curriculares Nacionais, mais especificamente nos PCN’s de língua portuguesa para o ensino médio, como são tratados os gêneros textuais, principalmente o e-mail.

Os PCN´s de Ensino Médio ressaltam o uso da linguagem no cotidiano dos alunos, mas não relacionam a língua falada e escrita ao contexto dos gêneros textuais. Podemos dizer que a linguagem costumeira dos sujeitos é empregada no ato de interagir. Ora, para haver interação entre os membros de um determinado meio, é preciso que eles desenvolvam competências lingüísticas e a escola é o espaço privilegiado para desenvolver tais competências. Para que isso ocorra de maneira sistemática, o trabalho com gênero deveria ser priorizado no trato com a língua materna.

É notável que nos PCN´s esta questão dos gêneros é tratada de forma vaga e imprecisa, quando se refere principalmente à natureza das relações entre a fala e a escrita; e às vezes é encontrado nesse documento, que deve nortear a prática docente em todo o país, somente tipos de textos ou sequências discursivas, tais como: narração, descrição, exposição, argumentação e conservação.

Marcuschi, em seu livro “Produção Textual, análise de gêneros e compreensão”, faz uma crítica aos PCN´s com relação aos gêneros, no item intitulado: “Gêneros textuais na língua escrita e falada de acordo com os PCN’s”

Este aspecto é complexo e não passa despercebido aos PCNs. Contudo, as observações, são, no geral, vagas. [...] Não se faz uma distinção sistemática entre tipos (enquanto construtos teóricos) e gêneros (enquanto formas textuais empiricamente realizadas e sempre heterogêneas). [...] Consideram-se apenas os gêneros com realização lingüística mais formal e não os mais praticados nas atividades linguísticas cotidianas. (MARCUSCHI, 2008. p.209)



A partir da fala do autor, percebe-se também que há uma necessidade de se trabalhar o gênero não somente como forma de compreender e sim como uma forma de produzir o conhecimento e o discurso, refletindo sobre os mesmos, uma vez que estudar os gêneros textuais implica produzir reflexões em torno do uso real da língua e da linguagem.

Dessa forma, percebemos que a abordagem dos PCN’s é pertinente em alguns pontos, mas não em outros, pois falta clareza quanto ao conteúdo e às maneiras de se trabalhar com gêneros textuais em sala de aula, falhando, portanto, no seu papel primordial de subsidiar os docentes no ensino da língua materna.

Para isso, objetivando o desenvolvimento de competências e habilidades para a formação dos educandos em que desenvolvam as possibilidades do uso da língua, é de suma importância que os educadores ampliem os seus conhecimentos, tratando de gêneros textuais diversos, privilegiando também os que estão ocultos, não somente na escola, mas no próprio PCN, que é o e-mail, utilizado com muita freqüência na realidade social dos alunos.



Considerações finais





Hoje, em uma sociedade globalizada em que o desenvolvimento tecnológico se impõe, a escola não deve fugir dessa realidade, que é o uso do gênero e-mail na sala de aula. Nesse contexto, o e-mail é mais uma possibilidade do uso da língua, que, de acordo com os PCN´s,

“Quanto mais dominamos as possibilidades do uso da língua, mais nos aproximamos da eficácia comunicativa estabelecida como norma de sua transgressão denominada estilo.” (BRASIL/MEC,1999 P.43)



Assim todas as tarefas referentes a textos devem ser desenvolvidas para que os alunos possam compreender e vivenciar os vários usos e funções da língua, inclusive no que tange aos gêneros oriundos das novas tecnologias de informação e comunicação.

A importância de se trabalhar o gênero e-mail, mesmo fora da proposta dos PCN´s tal qual da maioria dos livros didáticos, dá-se na sociedade atual por ser um produto social e cultural que faz parte do contexto, marcando assim um diálogo entre interlocutores que os produzem, entre outros gêneros textuais que o compõem, especificamente o espistolar.

É preciso que a escola abandone algumas práticas tradicionais, que deslocam o uso social da linguagem, integrando assim as novas tecnologias ao ato comunicacional, já que no contexto escolar o desenvolvimento tecnológico faz parte das discussões transmitidas pelos PCN´s.

Como os gêneros textuais sempre existiram, em forma de entrevista, debates, palestras, novelas, artigos, reportagens etc., é preciso nortear aqueles que ainda não entraram diretamente na proposta metodológica do ensino-aprendizagem, criando pois novas estratégias de ensino, de modo que enriqueça o trabalho docente, promovendo a interação professor/aluno e otimizando o aprendizado. Enfim, o uso das novas tecnologias nas escolas oferece oportunidade tanto aos alunos quanto aos professores de desenvolverem melhor suas competências nesse mundo moderno, de forma a dominar o uso da língua e desenvolver maior eficácia com relação à fala e à escrita.



Referências



1. Brasil. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio: Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília, DF: MEC, 1999.



2. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. – São Paulo: Parábola Editorial, 2008.



3. PAIVA, Vera Lúcia M. de O. E-mail: um novo gênero textual. In: MARCUSCHI, Luiz Antônio, XAVIER, Antônio Carlos. (orgs.). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção do sentido. – 2. Ed. – Rio de Janeiro: Lucerna. 2005.



4. ROCHA, Ivânia et al. Gêneros ocultos na escola. – Artigo apresentado no Seminário Interdisciplinar de Pesquisa em Letras – SIP VII, da Uneb/DCHT – Campus XVI. – Irecê/BA: Acervo pessoal, 2009.



5. SANTOS, Wasley. O e-mail como gênero textual em sala de aula. Disponível em: http://www.webartigos.com/articles/20685/1/o-email-como-genero-textual-na-sala-de-aula/pagina1.html - Acesso em: 03/08/2009, às 20:31.



















































ANEXOS





















































Tabela 1.0 – Coleções de livros didáticos para o Ensino Médio





Título Autor (es) Editora Ano Abordagem

Português (1ª, 2ª e 3ª séries)

José de Nicola Scipione 2008 Nada consta: traz um capítulo inteiro, no Vol. I, sobre gêneros textuais no cotidiano, mas não faz menção ao e-mail.

Português: Linguagens

(1ª, 2ª e 3ª séries)



William Roberto Cereja; Thereza Cochar Magalhães Atual 2005 Nada consta

Novas Palavras: língua portuguesa: ensino médio Emília Amaral;

Mauro Ferreira;

Ricardo Leite;

Severino Antônio;

FTD 2005 * Não há nem mesmo um exemplo;

* Não trabalha na perspectiva de gêneros textuais, mas com o emprego das seqüências narração, descrição e dissertação.









Título Autor (es) Editora Ano Abordagem

Textos: Leituras e Escritas

Vol. Único Ulisses Infante Scipione 2004 Nada consta

Português: Novas Palavras

Vol. Único Emília Amaral, Mauro Ferreira, Ricardo Leite, Severino Antônio. FTD 2003 Nada consta

Português: língua e cultura

Vol. Único Carlos Alberto Faraco Base 2003 Faz uma só referência; mesmo assim, indireta, pois é num artigo de opinião que aborda o assunto.

Português: Literatura, Gramática, Produção de texto.

Vol. Único Leila Lauar Sarmento; Douglas Tufano. Moderna 2004 Traz um capítulo inteiro sobre os textos do cotidiano: carta pessoal, bilhete, convite e e-mail; inclusive com exercícios e atividades avaliativas sobre o gênero e-mail.

Língua Portuguesa

Vol. Único Heloísa Harue Takazaki IBEP 2005 Nada consta

Português

Vol. Único João Domingues Maia Ática 2008 Nada consta

Português: Novas Palavras

Vol. Único Emília Amaral, Mauro Ferreira, Ricardo Leite, Severino Antônio. FTD 2000 Nada consta

Língua Portuguesa: Projeto Escola e Cidadania para todos

Vol. Único Harry Vieira Lopes; Josafá Fernandez Gonçalves; Simone Gonçalves da Silva;

Zuleika de Felice Murrie. Editora do Brasil 2004 Nada consta

Português de olho no mundo do trabalho Ernani Terra;

José de Nicola. Scipione 2008 Trata o e-mail de forma técnica, orientando como utilizar esse “meio de transmissão de mensagens”, mas não como gênero textual.

Português: Projetos Carlos Emílio Faraco; Carlos Marto de Moura Ática 2008 Traz algumas páginas intituladas “Literatura na era da internet”, mas não traz o e-mail nesse contexto.

Tabela 2.0 – Livros didáticos para o Ensino Médio no formato Volume Único.



6 comentários:

  1. Bem atual e pertinente a linha de Pesquisa do grupo. O professor tem nas mãos uma possibilidade de conquistar seus alunos ao fazer uso das novas tecnologias.

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  2. Esse artigo num poderia ser menos que nota 10,0. Afinal é a modernidade e tecnologia entrando na sala de aula de maneira favoravel a uma maior interação e participação dos alunos, assim como uma junção do que eles gostam ao que eles precisam compreender!

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  3. A nossa pesquisa mostra que as tecnologias já fazem parte do cotidiano dos alunos; as escolas, através dos professores, coordenadores e gestores, é que precisa acordar para uma realidade cada vez mais presente na vida de todos nós.
    As TIC's precisam ser inseridas no bojo dos trabalhos pedagógicos, pois a sala de aula não pode se distanciar ainda mais do mundo real dos alunos.

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  4. Bem pertinente esse trabalho visto que estamos numa era tecnologica e por sua vez não poderia ficar fora do espaço escolar,um lugar onde se busca ampliar conhecimentos, fazendo uso do que está à sua volta,cabendo aos profissionais dessa mediaçao fazer uso desse cyber espaço...bjusss .........ANA PAULA MACIEL

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  5. A sociedade em que vivemos é permeada por um vasto conjunto de informações que possibilita o intercâmbio entre os indivíduos.Assim, é por meio dessa comunicação que surgem os textos que, por sua vez, se efetivam por meio de algum gênero textual.
    Para acompanhar o ritmo das informações bem como as constantes mudanças que ocorrem na nossa sociedade, a escola precisa buscar os meios que fazem parte da rotina dos seus alunos, pois se tudo caminha num ritmo tão dinâmico e acelerado, a escola não pode ficar à margem.Dessa forma, os mais diversos gêneros, principalmente aqueles mais utilizados pelos educandos, devem ser estudaos, analisados e discutidos em sala de aula.

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  6. A comunicaçao via email, por nao ser presencial, parece-nos sem conextualidade. Porem, ja existem hoje as netiquetas, que sao regras que orientam quanto a certas cordialidades e bom senso á convivencia dos usuarios da rede. Sendo assim, é interessante tambem se trabalhar esta questao visto que a interacao entre os alunos favorece as relaçoes de aprendizagem...
    É pano pra manga, gente rsss....
    Valeu meninas!!!!
    MILCA SODRÉ

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