terça-feira, 27 de outubro de 2009

Gêneros ocultos na escola_________________________________________________


Giomara Gomes

Ivânia Rocha

Leusina Neves

Ronaldo Almeida



Resumo: Analisamos a ocorrência dos gêneros textuais na escola, através do estudo de uma instituição pública. A fim de situar o leitor, trabalhamos, após apresentar o nosso objetivo, metodologia e relevância do trabalho, um breve histórico dos gêneros na história, a sua indicação nas diretrizes educacionais brasileiras (PCN’s), e a diferenciação entre gênero e tipo textual. Em seguida, nos atemos à análise do objeto, que consiste no estudo de como se dá o trabalho com textos em uma escola pública, o que foi feito por meio de questionários dirigidos a alunos e professores de Língua Portuguesa do Ensino Médio. Finalizamos reiterando a importância do trabalho com os gêneros e enfatizando a necessidade dos professores trabalharem também com os gêneros ocultos na escola.



Palavras-chave: Gêneros textuais, Ensino de Português, Textos tecnológicos e Textos não-verbais.



Introdução



O presente artigo tem como objetivo apresentar o estudo e reflexão acerca dos gêneros textuais, já que estes se integram circunstancialmente ao cotidiano das pessoas pelas linguagens, propiciando atividades discursivas e interativas. A metodologia empregada consistiu na revisão da literatura sobre o assunto, sobretudo os escritos de Luiz Antônio Marcuschi, da Universidade Federal de Pernambuco, e também na pesquisa com professores e alunos das terceira série do Ensino Médio de uma escola pública da cidade de Irecê – o Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães. A escolha foi quase impositiva, uma vez que é a única escola onde funciona o Ensino Médio regular em funcionamento, no momento.

A importância desse trabalho reside no fato dele contemplar, ao mesmo tempo, a discussão atual em torno do ensino de texto na escola, e trazer à tona o questionamento se o que o professor ensina é relevante para os alunos, ou seja, se a escola atende às demandas atuais dos seus usuários. Além disso, o ensino de texto na escola, através dos gêneros está priorizado nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), instrumentos que direcionam o ensino dos vários componentes curriculares no Brasil.

Com base nas discussões apresentadas neste artigo, e de acordo com a concepção de Marcuschi (2008, p.147), pode-se entender que a expressão “gênero” não é nova, já esteve presente desde Platão, firmando-se com Aristóteles, passando por Horácio e Quintiliano, pela Idade Média, o Renascimento e a Modernidade, até os primórdios do século XX. Hoje gênero é facilmente usado para referir a uma categoria distintiva de discurso de qualquer tipo, falado ou escrito, com ou sem aspirações literárias. Com isso, o gênero textual não se restringe, mas é usado em etnografia, sociologia, antropologia, retórica e na lingüística, tendo um papel interdisciplinar.

Para entender o gênero como forma discursiva é fundamental ver o discurso quando produzido, nas suas manifestações linguísticas, por meio de textos; sendo que o seu produto forma-se na oralidade e/ou escrita, criando assim, significações para a comunicação em geral, que se traduz em um texto, estabelecendo, a partir daí elementos de coesão e de coerência. Através das interações comunicativas nota-se que os textos podem ser organizados dentro de um determinado gênero, partindo das condições de produção do discurso, os quais geram, assim, usos sociais.

Os gêneros são, portanto, determinados historicamente, de acordo com o desenvolvimento sócio-cultural e a cada dia torna-se essencial que a atividade de ensino contemple a diversidade de textos e gêneros, não só apenas em função de uma relevância social, mas pelo fato de que textos pertencentes a diferentes gêneros são organizados de diferentes formas, propiciando o contato dos alunos com um universo significativo de possibilidades textuais que poderá usar ao longo de sua vida, de acordo com as suas necessidades. Entretanto, é preciso que se abandonem as velhas formas de se ensinar os gêneros e, ao contrário, fazer uma relação específica que abrange os novos gêneros de circulação social, para que se possa favorecer uma reflexão crítica para o uso da linguagem com uma plena participação na sociedade letrada.



Estudo dos gêneros textuais segundo os PCN’s



Uma das competências e habilidades a serem desenvolvidas em Língua Portuguesa pelos alunos do Ensino Médio, segundo os PCN’s, é: Analisar os recursos expressivos da linguagem verbal, relacionando textos/ contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura, de acordo com as condições de produção/recepção (intenção, época, local, interlocutores participantes da criação e propagação de idéias e escolhas). (Brasil/ MEC, 1999. p. 42)

Todo aluno tem a necessidade de ampliar o domínio da língua e da linguagem. Com isso, é fundamental que as escolas desenvolvam os conhecimentos discursivos e linguísticos de modo variado, produzindo diferentes efeitos de sentido adequados ao texto, nas várias situações de interlocução, oral e escrita.

Ainda de acordo com os PCN’s, “Quanto mais dominamos as possibilidades de uso da língua, mais nos aproximamos da eficácia comunicativa estabelecida como norma ou a sua transgressão, denominada estilo. A atenção sobre aquilo que não se mostra e como se mostra traz informações sobre quem produz e para que produz.” (Brasil/ MEC, 1999. p. 43). Assim, todas as tarefas referentes a textos devem ser desenvolvidas para que os alunos possam compreender e vivenciar os vários usos e funções da língua, como está explícito nos PCN’s:



Os gêneros discursivos cada vez mais flexíveis no mundo moderno nos dizem sobre a natureza social da língua. Por exemplo, o texto literário se desdobra em inúmeras formas; o texto jornalístico e a propaganda manifestam variedades, inclusive visuais; os textos orais coloquiais e formais se aproximam da escrita; as variantes lingüísticas são marcadas pelo gênero, pela profissão, camada social, idade, região. (Brasil/ MEC, 1999. pp. 43/44)



É observável que os gêneros sempre existiram e que há uma variação em função da época, das culturas, das finalidades sociais e o ensino deve priorizar as variedades de gêneros novos nas escolas, pois são com eles que os alunos interagem no cotidiano, já dispondo de competência discursiva e lingüística, sem contar com as relações sociais, que são formas de interação que despertam no aluno a capacidade de se inter-relacionar. Desse modo, há uma necessidade que o sistema educacional de ensino privilegie textos de gêneros que apareçam com maior frequência na realidade social.



Gênero textual, tipo textual e domínio discursivo



O estudo do gênero constitui um instrumento de grande importância por estar presente de forma constante na comunicação verbal, fazendo parte da linguagem que o homem utiliza para se comunicar, visto que tais comunicações verbais se dão através de textos que são feitos a partir de algum gênero. Dominar um gênero textual não quer dizer dominar uma forma linguística, mas sim realizar linguisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares. Marcuschi defende a ideia que distinguir tipo textual de gênero textual é extremamente necessário, pois a confusão entre ambos pode esvaziar a noção de gênero textual de sua carga sociocultural, historicamente construída, ferramenta essencial para alguns na socialização do sujeito via linguagem escrita, e para tal define tipos textuais como construções teóricas definidas por propriedades lingüísticas intrínsecas e gêneros textuais são realizações lingüísticas concretas definidas por propriedade sócio-comunicativas.

Os tipos textuais abrangem categorias textuais limitadas como a narração, argumentação, exposição, descrição, injunção, se restringindo, portanto, a um pequeno grupo específico, enquanto que os gêneros textuais são inúmeros, pois se tratam de textos que são encontrados diariamente e apresentam padrões sociocomunicativos, características definidas por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas sociais, institucionais e técnicas e como exemplo de gênero textual tem-se o sermão, telefonema, carta, aula expositiva, artigos jornalísticos, lista de compras, bula de remédio, piada, conversação espontânea, cardápio de restaurante, outdoor, bate-papo por computador, aulas virtuais e diversas outras. Gêneros textuais são, portanto, formas textuais escritas ou orais estáveis, históricas e socialmente situadas.

No âmbito desse estudo há também o domínio discursivo, que serve para designar uma esfera ou instância de produção discursiva da atividade humana na qual os textos circulam. Segundo Marcuschi, esses domínios não seriam nem textos, nem discursos, mas dariam origem a discursos muito específicos. Constituem práticas discursivas dentro das quais seria possível a identificação de um conjunto de gêneros que às vezes lhe são próprios, como exemplo, discurso jornalístico, discurso jurídico e discurso religioso, que são atividades que não abrangem gêneros em particular, mas originam vários deles. Dessa forma, as definições para gênero, tipo e domínio discursivo são as seguintes: tipo textual são textos nos quais predomina a identificação de seqüências lingüísticas como norteadoras; gênero textual é a categoria na qual predominam os critérios de padrões comunicativos, ações, propósitos e inserção sócio-histórica; e domínio discursivo que é um campo, em que não é utilizado propriamente o texto, mas sim formações históricas e sociais que originam os discursos.

Levando em consideração que os gêneros constituem importantes formas de comunicação e interação entre as pessoas, pois é feita através da linguagem e esta não para de evoluir, pois aqueles compõem formas vivas e dinâmicas, e também evoluem, acompanhando, com isso, os avanços na linguagem e sua inserção no mundo comunicativo.



Gênero textual no cotidiano



A língua é uma atividade social, histórica e cognitiva, e é através dela que nos comunicamos. A comunicação verbal só é possível por algum gênero textual, pois é impossível nos comunicarmos verbalmente senão por um texto. Os gêneros textuais têm sua importância, pois ampliam e enriquecem a capacidade dos alunos de produzirem textos orais e escritos. Consequentemente, ajudam-lhes a compreender e interpretar os textos com mais aperfeiçoamento. Vejamos o que diz Marcuschi:

Os gêneros surgem emparelhados a necessidades e atividades sócio¬-culturais, bem como na relação com inovações tecnológicas, o que é facilmente perceptível ao se considerar a quantidade de gêneros textuais hoje existentes em relação a sociedades anteriores à comunicação escrita. (MARCUSCHI, s.d.)





O estudo dos gêneros textuais é muito antigo e achava-se concentrado na literatura; hoje é encontrado na linguística de maneira geral. Surgiu com Platão, na tradição poética; e com Aristóteles na tradição retórica. Hoje, com o grande desenvolvimento da cultura eletrônica, houve um aumento significativo das categorias textuais usadas pelas pessoas, como: rádio, celular, televisão, computador, notebook e a mais notável de todas: a internet. Foi com o avanço das tecnologias, especialmente na área da comunicação, que surgiram novos tipos de gêneros: sítios de relacionamento (orkut, msn, bate- papo), correio eletrônico, diários virtuais etc. Com isso, encontramos uma grande possibilidade de trabalhar com novos gêneros, pois eles nos apresentam uma nova forma de comunicação, tanto oral como escrita. Porém, cabe à escola decidir com que tipo de gênero trabalhar. A escolha de um gênero pode servir para interagirmos com pessoas das mais diversas localidades, mas devemos ficar atentos à questão intercultural, pois o que pode ser adequado à nossa cultura, pode ser inadequado à outra. Como explicita Marcuschi (2008, p.171) que em um encontro de negócios entre chineses e alemães, foi notado que os alemães gostam de contar piadas em seus encontros, porém para os chineses isso é inadequado. No entanto o uso de provérbios por parte dos chineses é muito usado, isso para eles é sinal de boa educação. Com isso chegamos a uma conclusão que todos os povos têm a sua cultura e que eles trabalham os gêneros de acordo com os seus princípios.

Os gêneros precisam de um suporte para que possam circular na sociedade, na definição de Marcuschi, suporte de um gênero é o lócus físico ou virtual com formato específico que serve de base ou ambiente de fixação do gênero materializado no texto (MARCUSCHI, 2008, p.174). O suporte pode ser convencional ou incidental . Existem ainda outros tipos de gêneros, esses podem ser considerados como serviços, são os correios, programas de e-mail, mala-direta, internet etc. Para processar seus textos, o falante lança mão do saber linguístico, enciclopédico e interacional, não podemos definir a forma como eles se organizam, mas sabemos que eles agem interativamente e é com base nesses conhecimentos que os falantes especificam os gêneros produzidos durante sua fala.





Os gêneros textuais na sala de aula: gêneros ocultos na escola





Entre os dias 13 e 17 de março de 2009 foram aplicados questionários com 10 alunos (04 rapazes e 06 moças) da terceira série do Ensino Médio com idade entre 16 e 20 anos, todos estudantes do Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães de Irecê, escolhidos aleatoriamente de um universo de cerca de 360 alunos na mesma situação. Também foram aplicados questionários com 06 professores de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, do universo de 09; mas, dos 06 questionários entregues, somente 04 foram devolvidos, sendo que os respondentes, nesse caso, são todos do sexo feminino, que estão atuando no magistério há 15 anos ou mais e que trabalham em, no mínimo, duas instituições. No que tange aos alunos, todos responderam e devolveram os questionários imediatamente, tendo demonstrado apenas algumas dúvidas quanto ao teor do referido instrumento, que foram sanadas enquanto eles respondiam às questões.

Tanto os questionários dirigidos aos alunos, quanto os referentes aos professores versam sobre os gêneros textuais. O questionamento sobre o mesmo tema foi proposital, pois pretendemos confrontar a visão discente e a docente, observando até que ponto elas convergem e se há divergências quanto ao trabalho dos gêneros textuais na escola, à sua relevância e também se as modalidades textuais efetivamente utilizadas pelos alunos em seu cotidiano estão sendo também trabalhadas em sala de aula.

Inicialmente, logo após a identificação do entrevistado, foi perguntado de que modo se dá o trabalho com textos em sala de aula e dadas as seguintes alternativas, que poderiam ter selecionada uma ou mais opções, conforme o parecer do respondente (as alternativas abaixo estão conforme aparecem no questionário destinado aos professores; essas mesmas opções foram adaptadas para os alunos):

a) Trabalho com os tipos textuais narração, dissertação e descrição;

b) Uso textos variados, para leitura, análise, refacção e produção, a fim de que os alunos conheçam a variedade de gêneros;

c) Apresento a meus alunos uma diversidade de gêneros textuais, escritos ou não, sem excluir a tipologia textual, que está inserida nos diferentes gêneros.

Houve nove incidências para o item b no questionário dos alunos e quatro no das professoras, ou seja 90% dos estudantes entrevistados responderam que seus professores trabalham com textos escritos, que contemplam vários gêneros; e 100% dos professores confirmaram que realmente o fazem. Apenas três alunos marcaram a opção a e somente um assinalou a alternativa c, que era a mais abrangente de todas, pois se observarmos as alternativas a, b e c formam um continuum, no qual a próxima categoria abrange a anterior, sendo a última a mais completa de todas. Assim, podemos concluir que, para os alunos, há um trabalho com gêneros textuais na escola, mas de modo resumido, de modo que não alcança gêneros orais e pictóricos, por exemplo. Já as professoras, 75% delas marcaram a opção a também, demonstrando claramente que trabalham com a tipologia textual. Quando respondiam, questionamos a uma delas o porquê de assinalar a letra a, e ela respondeu prontamente que pretende contemplar uma exigência dos vestibulares, o que não deixa de ser verdade, visto que alguns sistemas de avaliação ainda se mantêm focalizados na cobrança dos tipos textuais. Duas delas (50%) assinalaram ainda a opção c, o que vai de encontro com a opinião dos alunos (10%) que não veem o trabalho como descrito na referida alternativa.

A segunda questão do questionário versa sobre quais os gêneros são, de fato, trabalhados em sala de aula; novamente, poderia ser assinalada mais de uma opção. A tabela seguinte traz o resultado referente às opções dos alunos:



Classificação Gênero (s) Ocorrências Percentual

1º lugar Artigo de opinião 09 90%

2º lugar Artigo informativo (jornalístico) 08 80%

3º lugar Poesia 07 70%

4º lugar Música e Resumo 06 60%

5º lugar Conto, Romance e Crônica 05 50%

6º lugar Diários, Peça teatral e Histórias em quadrinhos 04 40%

7º lugar Carta, Receitas, Bulas, Resenha, Ditados populares 02 20%

8º lugar Bilhete, Filmes, Novela 01 10%



Observa-se que o item que obteve mais marcações pelos alunos foi o gênero artigo de opinião, com 09 incidências, o que corresponde a 90% do total de optantes; em seguida vem artigo informativo, com o percentual de 80%; a poesia com 70%; empatados em 4º lugar, com 40% das marcações temos os gêneros música e resumo; e, em 5º lugar aparecem os gêneros conto, romance e crônica. Ainda há ocorrências, embora de menor significação, dos gêneros diários, peça teatral, histórias em quadrinhos, carta, receitas, bulas, resenha, ditados populares, bilhete, filmes e novela. Percebe-se, nitidamente, a opção pelo trabalho com os gêneros textuais tradicionais. Modalidades modernas, como Orkut, e-mail, Messenger, reality shows e blogs não têm nenhuma ocorrência, bem como modalidades não-verbais, como é o caso de pinturas, esculturas e gravuras.

Quanto às professoras, duas delas (50%) assinalaram todos os itens, com exceção de esculturas e reality shows; uma marcou somente os mesmos gêneros tradicionais mencionados pelos alunos; e uma outra marcou também as mesmas modalidades escritas de sua colega e dos alunos, porém acrescentou algumas modalidades não-verbais, como a escultura, a pintura e a gravura. De modo geral, é possível afirmar que as respostas de professoras e alunos convergem no que diz respeito ao ensino dos gêneros tradicionais escritos, mas divergem quanto ao trabalho com os gêneros resultantes do avanço da tecnologia, bem como com as modalidades textuais não-escritas. Acreditamos que as divergências podem ser oriundas de duas fontes: 1ª – os professores começaram a trabalhar os gêneros modernos a pouco tempo, de modo incipiente, e os alunos ainda não consideram como um trabalho efetivo; 2ª – os professores não trabalharam de fato com tais gêneros, mas apenas mencionaram os mesmos superficialmente para seus alunos, o que levam aqueles supor que ensinam, embora estes não percebam do mesmo modo.

A terceira questão do instrumento solicitava às pessoas que marcassem alternativas que correspondem aos objetivos do ensino de texto na escola, diante das necessidades do mundo moderno. Para os alunos, o mais importante é saber comunicar-se, efetivamente, de modo mais ou menos formal, de acordo com suas necessidades (60%) e dominar tanto a língua coloquial como a padrão e também descrever fatos, objetos e acontecimentos (50%). Já as professoras acham importantíssimo que os alunos saibam o que é uma dissertação; sejam capazes de descrever fatos, acontecimentos e objetos; saibam comunicar-se, efetivamente, de modo mais ou menos formal, de acordo com suas necessidades; dominem tanto a língua coloquial como a padrão; e possam escrever narrativas. Pode-se concluir que os alunos estão mais interessados no uso efetivo da língua em suas vidas, em seu cotidiano, priorizando o ensino através dos gêneros textuais; enquanto que os profissionais ora tendem para as necessidades práticas dos alunos (adequação da língua, por exemplo), ora voltam a sua atenção para a tipologia textual (descrever, narrar e dissertar): é como se enfrentassem um dilema entre gênero e tipo e não estivessem bem seguros de qual forma seria a mais adequada; ou então, e talvez essa seja a hipótese mais próxima da verdade, devido ao tempo de trabalho das professoras entrevistadas (15 anos ou mais), é que não estejam totalmente inteiradas sobre os estudos dos gêneros textuais e sua aplicação ao ensino da língua materna.

A quarta questão contém uma solicitação para que o entrevistado relate uma atividade textual significativa ocorrida em sala de aula. Tanto professores quanto alunos centraram as suas respostas em trabalhos que contemplam a metodologia através dos gêneros, visto que citaram conto, crônica, romance e leituras de textos variados (vários gêneros) como as atividades mais significativas. A análise desse item nos faz perceber que o que predomina na escola analisada é realmente o ensino dos gêneros tradicionais escritos, pois não houve qualquer ocorrência para os gêneros cibernéticos, nem para os pictóricos. O que deixa clara a segunda questão, na qual perguntamos sobre quais os gêneros eram, de fato, trabalhados em sala de aula: a ênfase, recai, com certeza, sobre modalidades escritas mais formais. Esta foi a última questão para as professoras. Para os alunos, acrescentamos mais uma: desejamos saber quais os gêneros eles costumam usar em seu cotidiano, a fim de comparar com o trabalho desenvolvido na escola.

Quando questionados sobre os gêneros da listagem por nós apresentada que mais utilizam no cotidiano, os alunos responderam, quase sempre, apontando itens que estão ligados às inovações tecnológicas, embora também façam uso de gêneros tradicionais escritos, como é possível observar na tabela abaixo:

Classificação Gênero (s) Ocorrências Percentual

1º lugar Música 08 80%

2º lugar Orkut 07 70%

3º lugar Artigo informativo (jornalístico) e Filmes 06 60%

4º lugar Poesia 05 50%

5º lugar E-mail, Artigo de opinião e Resumo 04 40%

6º lugar Bilhete, Messenger, Ditados populares e Vídeos, 03 30%

7º lugar Carta, Novela, Peça teatral, e Ofícios 02 20%

8º lugar Pinturas, Gravuras, Artigo científico, Romance, Histórias em quadrinhos, Receitas, Bulas, Diários e Crônica 01 10%



Nota-se que enquanto os alunos usam prioritariamente a música; os professores deixam-na em terceiro plano; se, por um lado, os estudantes utilizam o orkut intensamente, os professores praticamente ignoram tal texto; se os filmes não estão em alta na escola, na vida dos jovens estão. Além desses, aparecem o e-mail e outros textos, não-verbais, que os alunos afirmaram não ser trabalhados na escola e que eles utilizam, embora não com muita frequência em sua vida diária.



Considerações finais



Diante do exposto, se faz mister reiterar a importância do trabalho com os gêneros textuais na escola, não só porque são indicados por diretrizes de políticas educacionais, mas pelo seu papel fundamental na vida social do aluno; pelo seu caráter pragmático, através do qual o texto tem uma função real na vida dos estudantes, pois as aprendizagens só são significativas, se fizerem sentido para quem aprende. Os gêneros textuais, como modalidades sociais, atendem a essa demanda.

É essencial que repensemos as nossas práticas, a fim de atender às expectativas dos alunos, que têm usado bastante as novas modalidades textuais: precisamos dar importância aos usos que os estudantes fazem do texto, incentivando-os a usarem mais os gêneros textuais e a ampliar as possibilidades de uso, adequando-as à situação comunicativa.

O orkut, o e-mail e as gravuras, entre outros, são textos importantes que estão ocultos na escola, visto que são usados pelos alunos, mas não são trabalhados sistematicamente pelos professores. É necessário que os professores dominem as novas tecnologias, talvez até aprendendo com seus alunos, a fim de dar conta dessa exigência da atualidade. É evidente que não devemos abandonar os gêneros tradicionais, apenas devemos contemplar novas modalidades, a fim de expandir o universo da textualidade na escola. Assim, daremos conta de trabalhar com os textos que os alunos já usam, valorizando as suas aprendizagens prévias, como também abordaremos outros textos, como possibilidades futuras de uso, preparando-os para o porvir, que pode ser o trabalho, a universidade ou ambos.



Referências



1. Brasil. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio: Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília, DF: MEC, 1999.



2. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. Sítio: www.proead.unit.br/professor/linguaportuguesa/arquivos/textos/Generos_textuias_definicoes_funcionalidade.rtf. - acessado em: 13 de março de 2009.



3. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. – São Paulo: Parábola Editorial, 2008.













































Anexo

















































UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

DEPARTAMENTO DE CIÊNC IAS HUMANAS E TECNOLOGIAS/DCHT

CAMPUS XVI - IRECÊ - BA





GIOMARA GOMES, IVÂNIA ROCHA,

LEUSINA MONTEIRO E RONALDO ALMEIDA.











GÊNEROS TEXTUAIS: GÊNEROS OCULTOS NA ESCOLA





Questionário de pesquisa realizada nas disciplinas de SIP III e Tipologia Textual, sob a orientação das Professoras Djárcia Brito e Hilderlândia Machado, respectivamente, como atividade obrigatória dos referidos componentes curriculares, referente ao 3º semestre de Letras/ Literaturas – Turma 2007.2.





















IRECÊ/ BA

2009

Questões para alunos da 3ª série do Ensino Médio sobre Língua Portuguesa:





NOME - _______________________________________________________________

IDADE - ______________________________________________________________



1- Como seu professor trabalha com os textos em sala de aula?



a) Trabalha com os tipos textuais narração, dissertação e descrição;



b) Usa textos variados, para leitura, análise, refacção e produção, a fim de que os alunos conheçam a variedade de gêneros;



c) Apresenta a seus alunos uma diversidade de gêneros textuais, escritos ou não, sem excluir a tipologia textual, que está inserida nos diferentes gêneros.



2- Quais dos gêneros abaixo já foram trabalhados em sala de aula?





a) carta;

b) bilhete;

c) música;

d) gravuras;

e) pinturas;

f) esculturas;

g) orkut;

h) e-mail;

i) messenger;

j) reality shows;

k) filmes;

l) vídeos;

m) receitas;

n) bulas;

o) artigo de opinião;

p) peça teatral;

q) ofícios;

r) artigo informativo (jornalístico);

s) artigo científico;

t) resumo;

u) resenha;

v) conto;

w) novela;

x) romance;

y) blog;

z) diários;

aa) poesia;

bb) ditados populares;

cc) crônica;

dd) histórias em quadrinhos.



3- Diante das necessidades do mundo moderno, considero importante que os estudantes:



a) saibam o que é uma dissertação;

b) possam escrever narrativas;

c) sejam capazes de descrever fatos, acontecimentos e objetos;

d) saibam comunicar-se, efetivamente, de modo mais ou menos formal, de acordo com suas necessidades;

e) dominem a linguagem coloquial, somente;

f) dominem tanto a língua coloquial, como a língua padrão;

g) usem, em sala de aula, somente a norma culta.



4- Relate, em poucas linhas, um trabalho com texto, sob a orientação de seu professor, realizado em sala de aula que você considera relevante:



________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5- Quais dos gêneros abaixo você usa, com frequência, no seu dia-a-dia?



a) carta;

p) peça teatral

b) bilhete;

q) ofícios

c) música;

r) artigo informativo (jornalístico)

d) gravuras s) artigo científico;

e) pinturas t) resumo;

f) esculturas u) resenha;

g) orkut v) conto;

h) e-mail w) novela;

i) messenger x) romance;

j) reality shows y) blog;

k) filmes z) diários;

l) vídeos aa) poesia;

m) receitas bb) ditados populares;

n) bulas cc) crônica;

o) artigo de opinião dd) histórias em quadrinhos.



3 comentários:

  1. Que Pesquisa rica pessoal!!!! é de fundamental importância esse contato com os alunos, desvendando mistérios, descobrindo paixões...

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  2. Concordo com Lílian até pq também, sabemos que todos os textos manifestam-se por meio dos gêneros textuais, então, é importantíssimo aplicar isso em sala de aula, no ensino da língua, e, agora, nesta época que vivemos, pós-modernidade, nunca foi tão importante ter o conhecimento de tais gêneros, pois seu domínio é de fundamental importância.

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  3. Os gêneros tem uma significativa construção,visto que esta presente nos mais variados espaços de nossas vidas,e nessa era então é de extrema importância trabalhar esses novos gêneros do cyber-espaço em sala de aula. Ana Paula Maciel

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